Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de dezembro de 2022
A explosão de casos de cólera no mundo, cenário sem precedentes nas últimas décadas, foi acentuada pelas mudanças climáticas e pela escassez de vacinas, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Os fatores que causam o cólera são sempre os mesmos. Mas este ano temos um fator ainda mais importante: o impacto direto das mudanças climáticas, com uma sucessão de grandes secas, inundações sem precedentes em algumas partes do mundo e ciclones que amplificam a maioria dessas epidemias”, afirmou o epidemiologista responsável da organização pela luta contra a cólera, Philippe Barboza.
Ele diz que a OMS e autoridades nacionais de saúde estão atuando no combate da doença em 29 países. Por ser relacionada com a falta de acesso à água potável segura e a adequadas instalações sanitárias, a cólera é um problema sanitário que afeta principalmente países de baixa renda.
“O mapa está quase vermelho em todos os lugares”, afirma o epidemiologista, citando países como Haiti, Paquistão, Líbano, Síria, Quênia, Etiópia e Malawi. “Se não controlarmos a epidemia agora, a situação vai piorar.”
No Haiti, onde nenhum caso havia sido registrado em três anos, a situação se deteriorou rapidamente em um contexto de violência que torna ainda mais difícil o acesso a cuidados médicos já precarizados. No país, a doença causou mais de 280 mortes desde outubro.
Recentemente, a OMS entregou ao Haiti a primeira remessa com 1,2 milhão de doses da vacina oral contra a cólera, e a campanha para administrá-las começará nos próximos dias. No entanto, o estoque não é suficiente para enfrentar os surtos.
As reservas mundiais de vacinas para enfrentar emergências estão quase esgotadas, e as 36 milhões de doses contra a cólera que são fabricadas a cada ano já foram distribuídas, explicou Barboza.
Como não há laboratórios suficientes, apenas cerca de 2,5 milhões de doses são fabricadas por mês. Segundo o epidemiologista, serão necessários vários anos para aumentar consideravelmente essa capacidade de produção.
Além disso, ele ressalta que o imunizante para a doença é “muito menos atraente” para as farmacêuticas por se tratar de “uma vacina para países pobres”.
Estratégia de emergência
O cenário de desabastecimento levou a OMS a recomendar de forma excepcional a mudança do esquema vacinal de duas doses – que protege durante vários anos – para uma única aplicação, que confere menos proteção, mas alcança mais pessoas.
O temor é relacionado especialmente com a forma como a doença tem evoluído para formas graves. Barboza diz que a taxa de mortalidade da epidemia está extremamente alta na maioria dos países dos quais o órgão de saúde possui dados.
“Não é aceitável no século 21 que as pessoas morram de uma doença conhecida e fácil de tratar”, lamenta o especialista.
A cólera é uma doença causada pela bactéria Vibrio cholerae. A toxina liberada pelo microrganismo se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo normal de sódio e cloreto do corpo. Essa alteração faz com que o organismo secrete água em grandes quantidades, na forma de diarreia e vômitos. As complicações decorrem do esgotamento do corpo.
Ela é mais comum em crianças e idosos. A transmissão é por meio da água e dos alimentos contaminados pelas fezes ou mãos de pessoas infectadas. O período de transmissão dura enquanto o doente estiver eliminando a bactéria nas fezes.
A reidratação rápida é muito importante. Ela pode ser feita com soro caseiro ou de farmácias. Antibióticos e remédios para controlar a diarreia podem ser utilizados, com orientação médica. A doença é curável, desde que o tratamento seja precoce. No entanto, muitas pessoas nos países afetados não têm acesso oportuno às ferramentas necessárias.