Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 29 de abril de 2024
Bilhões de cigarras barulhentas e sexualmente excitadas vão surgir nos subúrbios e florestas dos Estados Unidos em um fenômeno natural que não ocorre há mais de dois séculos. Nas próximas semanas, dois grupos de cigarras vão emergir da terra em território americano, em um evento que coincide pela primeira vez desde 1803, quando Thomas Jefferson era presidente e os Estados Unidos adquiriram a Louisiana da França.
A família das cigarras é composta por mais de 3 mil espécies em todo o mundo, que passam a maior parte de suas vidas sob o solo em estado larval. Depois, emergem como adultos para realizar a metamorfose e acasalar. Algumas espécies emergem todos os anos, enquanto outras, conhecidas como cigarras sazonais, sincronizam sua aparição a cada 13 ou 17 anos.
O fenômeno deste ano envolve o grupo XIX, que aparece a cada 13 anos e já vem marcando presença nas Carolinas do Norte e do Sul. Depois, será a vez do grupo XIII no Centro-Oeste. Os dois podem vir a coincidir no mesmo ambiente no centro do Estado de Illinois.
“Quando saem, o fazem em grandes quantidades”, explica o entomólogo Gene Kritsky da Universidad Mount St. Joseph.
Nesse sentido, as pessoas que presenciam o fenômeno dificilmente se esquecem dele. É como viver um eclipse incomum, conta Kritsky.
Maravilha científica
As cigarras sazonais são relativamente indefesas e contam com seu grande número para garantir a sobrevivência da espécie. As hordas destes insetos saciam o apetite de pássaros, raposas e outros predadores, explica John Lill, professor de biologia da Universidade George Washington. Em um estudo publicado recentemente na revista Science, Lill e seus colegas revelaram uma série de impactos da explosão desses insetos no ecossistema.
Segundo os cientistas, um grupo que surgiu na capital Washington em 2021 provocou um aumento da população de lagartas porque as aves se concentraram no banquete proporcionado pelas cigarras. Como consequência, as lagartas prosperaram e consumiram mais mudas de carvalho.
Outro estudo demonstrou que os “anos de mastro”, quando os carvalhos produzem grande quantidade de bolotas, ocorrem dois anos após o aparecimento das cigarras. Mais bolotas sustentam populações maiores de mamíferos que se alimentam delas, o que, em última instância, gera maior risco de doença de Lyme para as pessoas.
“[Isso evidencia] que existem impactos ecológicos potenciais a mais longo prazo que reverberam durante anos depois dos fenômenos de aparição das cigarras”, disse Lill.
Impacto humano
Chris Simon, da universidade de Connecticut, que estuda as mudanças químicas no DNA das cigarras, adverte que a mudança climática está alterando os relógios internos das cigarras. Na medida em que os Estados Unidos ficam mais quentes, uma temporada de crescimento de plantas mais longa proporciona mais alimento, o que acelera o crescimento das cigarras.
“Prevejo que mais cigarras de 17 anos se transformarão em cigarras permanentes de 13 anos e eventualmente esse traço será assimilado geneticamente”, diz.
É difícil prever as consequências a longo prazo para a espécie. Por um lado, muitas gerações históricas se perderam devido ao desmatamento desenfreado. Mas as proles restantes prosperam em ambientes suburbanos, onde as árvores com boa iluminação oferecem condições ideais para que as fêmeas ponham seus ovos.
Depois, os adultos morrem, as ninfas recém-nascidas caem das árvores e se enterram. E o ciclo começa outra vez.