Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Facebook vira Meta e confunde brasileiros com novo nome

O Facebook agora se chama Meta. Calma, vamos explicar melhor: a rede social chamada Facebook continua se chamando Facebook; a empresa Facebook passa a se chamar Meta. A mudança de nome é para refletir o próximo plano de Mark Zuckerberg: construir um metaverso. Mas é claro que muita gente aproveitou o nome, digamos, sugestivo para fazer piada.

Zuckerberg aposta que o futuro da internet tem a ver com realidade virtual e realidade aumentada. Por isso, ele quer que o Meta crie um ambiente em que o digital e o real interajam. Você poderia usar um headset para fazer reuniões com seus colegas de trabalho de modo mais imersivo, por exemplo, ou receber mais informações sobre as lojas ao seu redor ou sobre o show que você está vendo.

A mudança de Facebook para Meta também vem em um momento em que a empresa está vivendo mais uma crise de reputação. Os Facebook Papers estão mostrando como a moderação é insuficiente e como a companhia quase sempre opta pelo lucro, mesmo que isso muitas vezes custe a segurança dos usuários.

Seis momentos de controvérsias até a chegada da nova fase da empresa

Polêmica sobre dados já no início de Facebook

Em novembro de 2007, com a operação comercial do Facebook ainda em seus primeiros passos, Zuckerberg lançou a ferramenta Beacon, que conectava a plataforma com outras empresas. Quando o usuário fazia uma compra numa dessas empresas, essa informação era publicada, via Beacon, em seu feed – numa combinação de compartilhamento de atividade pessoal com publicidade.

Com um detalhe: os usuários não haviam autorizado tal publicação, cujo cancelamento exigia uma complicada ação de “opt-out” para que o usuário desligasse o Beacon de seu perfil.

Em poucas semanas, o serviço tornou-se motivo de um processo contra a empresa, e o Facebook criou as opções de desligamento além de tornar o serviço “opt-in” – ou seja, o Beacon só seria ativado se o usuário o solicitasse.

Fake news em eleições

O Facebook, assim como aconteceria com outras plataformas digitais, passou a ser uma ferramenta na propagação das chamadas “fake news” – informações mentirosas divulgadas de forma deliberada para criar falsas narrativas e distorcer a realidade. Mas o tamanho da rede social amplificou a escala do problema.

Diversos estudos mostraram que as mídias sociais estimulam mais as pessoas a consumirem fake news e indicaram que o Facebook tem um papel preponderante no fenômeno, que ganhou amplo destaque durante a eleição nos Estados Unidos que culminou na vitória de Donald Trump em 2016.

A principal conspiração a circular na época foi o chamado Pizzagate, acusação falsa de que a candidata democrata e rival de Trump, Hillary Clinton, comandaria uma rede de pedofilia cuja sede ficaria numa pizzaria em Washington.

Depois da eleição americana, o fenômeno das fake news começou a ter ampla análise. E só dois anos depois a forma como conspirações eram distribuídas no Facebook foi compreendida a partir do escândalo da Cambridge Analytica.

O Facebook e o WhatsApp prometeram, em várias oportunidades, eliminar as brechas de seus sistemas que permitiam a invasão de privacidade indevida e o abuso por grupos políticos. Medidas específicas foram tomadas nos Estados Unidos, em Mianmar e no Brasil, enquanto mudanças nas plataformas – como um limite menor de pessoas para quem uma mensagem poderia ser repassada no WhatsApp – foram implementadas.

Cambridge Analytica

O Facebook sofreu um forte abalo em 2018 com a revelação de que as informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento delas pela empresa americana Cambridge Analytica para fazer propaganda política.

A companhia teria tido acesso ao volume de dados ao lançar um aplicativo de teste psicológico na rede social. Aqueles usuários do Facebook que participaram do teste acabaram por entregar à Cambridge Analytica não apenas suas informações, mas os dados referentes aos amigos do perfil. O aplicativo também coletou as informações dos amigos da rede social das pessoas que fizeram o teste. Ou seja, se uma pessoa respondesse o quiz, estaria entregando informações privadas não apenas do seu perfil, mas de todos os seus amigos.

Essas informações foram usadas para criar um sistema que permitiu predizer e influenciar as escolhas de eleitores da eleição norte-americana que resultou na vitória de Donald Trump e na votação do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia).

A denúncia, feita pelos jornais The New York Times e The Guardian, levantou dúvidas sobre a transparência e o compromisso da empresa com a proteção de dados dos usuários.

O papel do Facebook em atos que resultaram em um genocídio

Investigadores de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) concluíram que o discurso de ódio no Facebook desempenhou um papel fundamental no fomento da violência em Mianmar contra a minoria muçulmana Rohingya. A empresa admitiu que não conseguiu evitar que sua plataforma fosse usada para “incitar a violência”. Houve também a circulação de fake news envolvendo os Rohingya.

“O Facebook foi cúmplice de um genocídio. Já havia sinais e fortes apelos para que o Facebook lidasse com o incitamento à violência na plataforma, mas sua inação realmente contribuiu para fomentar a violência em Mianmar”, disse Rin Fujimatsu, do grupo de pesquisa e defesa Progressive Voice.

Multa recorde

Em 2019, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) aplicou uma multa recorde US$ 5 bilhões para encerrar uma grande investigação sobre falhas em série do Facebook na proteção da privacidade dos usuários.

A multa foi a maior para uma empresa por violação da privacidade dos consumidores e uma das maiores penalidades já decididas pelo governo dos Estados Unidos por qualquer violação. O valor, no entanto, é equivalente a apenas um terço do que a empresa ganhou nos primeiros três meses deste ano.

Documentos vazados e apagão

No último dia 5 de outubro, a ex-funcionária do Facebook Frances Haugen compareceu ao Senado americano para depor sobre suas denúncias contra a empresa, que incluíram documentos internos vazados e publicados pela imprensa.

Horas antes, Mark Zuckerberg teve que se pronunciar em uma outra frente de batalha para a companhia na mesma semana: em uma postagem, ele pediu desculpas por Facebook, Instagram e WhatsApp terem ficado fora do ar por cerca de seis horas no dia anterior (4/10) em boa parte do mundo.

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