Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 22 de outubro de 2023
O nevoeiro cerebral é uma das consequências mais comuns da Covid longa, mas a comunidade científica ainda não conseguiu explicar exatamente por que ele acontece. Uma pesquisa divulgada na revista Cell por médicos da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, aponta uma possível justificativa para o fenômeno: a baixa na quantidade de serotonina no corpo.
A nova pesquisa apontou que a covid longa acaba esgotando a serotonina periférica, que circula por todo o corpo e não só pelo cérebro. Para os autores do estudo, essa ausência leva ao nevoeiro cerebral, caracterizado pelos prejuízos na atenção, memória e concentração.
A serotonina é um neurotransmissor, ou seja, uma substância que regula a comunicação entre um neurônio e outro, e é produzida principalmente no intestino. De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), o receptor tem função sistêmica no organismo.
“Embora seja conhecida como o neurotransmissor do bom humor, a serotonina regula vários outros aspectos: apetite, sono, temperatura corporal, controle da pressão arterial, sensibilidade — todo um universo. Seus níveis baixos alteram o apetite, a capacidade de aprendizado e até o nível de atenção”, explica Danielle.
Segundo os neurocientistas americanos, a redução da serotonina provocada pela covid-19 seria a melhor explicação para o nevoeiro cerebral, mas também pode ser a raiz de outros problemas enfrentados por quem tem covid longa: por sua atuação sistêmica, a falta da substância poderia causar até problemas cardiovasculares e pulmonares.
Desequilíbrio
A pesquisa foi feita avaliando os níveis metabólicos de 58 pacientes que tiveram covid longa, com sintomas que duraram de três a 22 meses após a fase aguda da infecção. Eles foram comparados com 60 pessoas recuperadas da doença sem sintomas.
Os níveis de serotonina em quem teve covid longa foram, em média, metade do que a dos participantes sem sintomas prolongados. Quanto mais tempo os sintomas de covid-19 persistiam, menores eram os níveis periféricos de serotonina, descobriu o estudo.
Para os pesquisadores, o que justifica a queda da serotonina é o aumento de proteínas interferon, responsáveis por combater células tumorais e invasoras no cérebro e no intestino.
Um dano colateral do aumento de interferons é que eles acabam atacando também os neurotransmissores. Como é no intestino que a maior proporção de serotonina é produzida, os níveis caem rapidamente.
Os médicos ainda testaram diminuir os níveis de serotonina em camundongos e observaram que os animais sofreram sintomas semelhantes de confusão mental aos descritos pelos pacientes. Isso reforça a teoria de que a origem do problema está na falta do neurotransmissor.
Segundo os pesquisadores, porém, são precisos testes com públicos mais amplos para comprovar a relação de causa-consequência.