Terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Forte desvalorização do real em relação ao dólar tem levado turistas a reduzir estadias e parcelar mais no cartão de crédito

Foi em meados deste ano que o consultor empresarial Jose Medeiros Filho, 55 anos, morador de São Luís (MA), abriu mão da sua viagem internacional com a família a Vancouver, no Canadá, programada para este mês de dezembro. O motivo: as perspectivas de um dólar mais caro. Ele antecipou uma tendência que se acelerou nas últimas semanas com a rápida desvalorização do real. O ritmo de alta do dólar é um fator que tem feito o brasileiro replanejar suas viagens internacionais, levando muitos a trocar por destinos domésticos.

O cenário tem ligado uma luz amarela, com a moeda americana superando os R$ 6, e o setor de turismo já prevendo queda nas vendas futuras. Em abril, Medeiros começou a se programar para viajar no Natal com sua esposa e três filhos. Mas desde então, o dólar entrou em uma tendência de alta, levando consultor a recalcular a rota. “Gosto muito de viajar, mas eu desisti por causa do câmbio e também das tarifas aéreas. Seria uma viagem para cinco pessoas”, disse.

Como plano B, ele decidiu passar o Natal com sua família em casa e fazer uma viagem curta pelo Brasil no ano novo. “Minha ideia agora é fazer poupança com antecedência, comprar e ir no ano que vem. Vamos ter de ter planejamento e nos adequar ao preço”, disse, destacando não ter esperanças de uma tarifa tão mais favorável no ano que vem.

O cenário de migração na demanda tem sido percebido pela CVC, maior agência de viagens do Brasil. “Nas últimas semanas [de dezembro após o dólar passar os R$ 6], vimos as vendas para viagens nacionais saltarem 34% contra o ano passado, já nos cruzeiros nacionais as vendas se aceleraram em 30%. Enquanto isso, o volume internacional tem crescido 6%”, contou Fabio Godinho, CEO da CVC. Antes da derrocada do câmbio, o crescimento nessas três categorias rondava os 20%.

Godinho explicou que a parcela de clientes de alta renda continua viajando independentemente do preço. “No caso dos que mantêm a viagem internacional, vimos um crescimento de 28% nas vendas para o Caribe nas últimas semanas. Isso porque nesse roteiro a gente consegue fazer em 12 vezes sem juros toda a viagem em resort ‘all inclusive’, além do aéreo”, disse, sinalizando que a facilidade de pagamento tem sido uma alternativa para que o consumidor continue viajando.

Por enquanto, Godinho disse que a indústria não tem visto uma queda na demanda por viagens, pelo contrário. Na Black Friday deste ano a CVC vendeu 40% mais do que na edição do ano passado. Para o ano que vem, ele destacou que a previsão das aéreas é de aumentar a oferta de assentos internacionais no mercado brasileiro na casa de 10%.

“Por enquanto não vemos uma queda no lazer, mas vamos ver como o mercado vai se comportar”, disse. Um lado sensível, ponderou, é a viagem corporativa, uma vez que diante da subida de juros e dólar mais caro, as empresas começam a buscar formas de economizar. “Com isso, a viagem a trabalho pode virar, sim, uma teleconferência”, disse.

Ana Carolina Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav Nacional), destacou que o mercado internacional do Brasil tem crescido de forma significativa. “Vimos cada vez mais o olhar de fora para o Brasil”, disse.

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Brasil registrou uma movimentação internacional de 2,1 milhões de passageiros em novembro, recorde da base histórica da Anac, que começou há cerca de 25 anos. Em relação a novembro de 2023, o aumento na movimentação foi de 14%.

Mas a ida do brasileiro para fora, ponderou, tem sido cada vez mais complexa. “Nós últimos 15 dias, começamos a ver uma mudança no perfil de compra. Todo mundo está muito assustado com o câmbio. Com isso, o cliente resolve esperar, ou reduz a estadia”, contou. Medeiros reforçou ainda a migração de clientes que antes sempre viajavam ao exterior optando por pacotes domésticos.

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