Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Gianecchini fala do filme “Uma família feliz”, da imagem de galã e das críticas por viver drag no teatro

Reynaldo Gianecchini não tem mais a pretensão de corresponder às expectativas que vêm de fora. Aos 51 anos, o ator, que marcou a teledramaturgia brasileira com seus protagonistas de novelas e se consagrou como um dos mais famosos galãs da Globo, está expandindo seus horizontes. Seja no teatro, na TV ou no cinema, ele conta que tem buscado outras experiências na atuação:

“Não tenho nada contra o galã. Ele pode ser muito legal, e sempre me preocupei em interpretar um galã crível, não só um príncipe idealizado que não existe. Agora que não estou mais na fase de novelas e de ter contrato fixo, eu pensei que chegou a hora de fazer coisas diferentes. Testar novos formatos, personagens, coisas que eu nunca fiz, narrativas diferentes… Explorar novos territórios. Eu acho novela incrível, temos uma cultura excepcional de novelas, mas, como eu fiz por 20 anos, chegou a hora de me desafiar em outras coisas”, disse.

Os desafios vêm surgindo. O ator interpretou o líder religioso e abusador sexual Matias Cordeiro em “Bom dia, Verônica”, da Netflix, e também aparecerá com um personagem diferente dos que já viveu em “Uma família feliz”. O filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (4). O suspense acompanha uma família que vê a fachada de tranquilidade desmoronar quando os três filhos, um bebê recém-nascido e duas meninas gêmeas, aparecem com machucados misteriosos no corpo.

Ele interpreta Vicente, o pai, e faz par romântico com Grazi Massafera, que vive Eva, a mãe das crianças. Gianecchini analisa as adaptações que precisou empregar na representação destes personagens: “A diferença em relação às novelas é que o melodrama é sempre muito explícito no que ele quer mostrar. Não sobra muita dúvida para o público ficar criando nada. Quando você pega um personagem como este, é o oposto, é sobre o que você está escondendo. Não é nada óbvio. Se ele está com raiva, ele finge que não está, só que a raiva tem que estar lá. Esta é a grande dificuldade: mostrar todas essas camadas sem as emoções explícitas. Neste filme, precisa sobrar um espaço para o público interpretar o que o Vicente está sentindo, não pode ser tudo dado. E o público tem que ficar na dúvida também”.

Na trama, a família sofre retaliações e ameaças no local onde vive quando Eva passa a ser acusada de machucar os filhos. Para o ator, a gama de assuntos abordados o atraiu: “Quando li o roteiro, aceitei na hora. Ao longo dos ensaios, fui vendo o tanto de camadas para serem debatidas. A maternidade idealizada e romantizada; as questões do puerpério; o machismo, quando o homem tenta descredibilizar a mulher como mulher e como mãe; as falsas aparências; e a questão do cancelamento, hoje em dia sumário. As pessoas nem são julgadas e já são canceladas”.

Nos últimos anos, Gianecchini passou a falar abertamente sobre sua sexualidade. Ele se identifica como pansexual, orientação que abrange atração sexual e romântica por todos os gêneros. Mas ainda encontra certa resistência, dentro e fora da comunidade LGBTQIAPN+. Em fevereiro, o ator foi confirmado como protagonista do musical “Priscilla, a rainha do deserto” – uma adaptação do filme de 1994 que se estabeleceu como um marco da cultura LGBQTIAPN+, em especial do movimento artístico das drag queens. A estreia está prevista para junho. Ele acabou sendo alvo de muitas críticas nas redes.

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