Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de fevereiro de 2022
Quanto vale o tempo perdido, indagava o economista Antônio da Luz em palestra recente a um grupo de empresários. A preocupação do economista-chefe da Farsul faz todo o sentido quando estudos apontam para o risco iminente de mais uma década perdida, retardando a consolidação do desenvolvimento nacional. O Brasil, contudo, não está condenado ao subdesenvolvimento. De 1930 até a década de 1980, fomos um dos países com maior crescimento no mundo, deixando de ser uma economia periférica e atrasada, para nos transformar numa das 10 maiores economias do planeta, revelando que a existência de potencial interno torna ainda mais indesculpável nossa crônica incompetência dos últimos 40 anos. Soubemos combinar, à época e a despeito dos sobressaltos internacionais, a relativa estabilidade do padrão tecnológico vigente, aproveitar um mercado interno relevante, dispor de financiamentos externos, decidir pela intervenção direta do Estado em articulação com o setor privado e desfrutar, com senso de oportunidade, de regras internacionais menos restritivas aos países adjacentes.
Nas últimas décadas, entretanto, os erros sistematicamente cometidos por quem comanda o País, mais do que ligados a qualquer hipótese como cultura, clima ou religião, tem muito mais a ver com a incapacidade crônica de fazer escolhas e definir caminhos, ou seja, uma falha recorrente de pensar e agir estrategicamente, consolidar as instituições e tornar menos instável o ambiente econômico. Enquanto isso não acontece, nosso encontro com o futuro vem sendo tragicamente postergado, com o desemprego em alta e os rendimentos médios mensais encolhendo a um ritmo alarmante. Mais doloroso ainda é reconhecer que o custo econômico e social da crise que perdura castiga de modo inclemente a população mais pobre, vítima primeira da ausência de planejamento e execução adequados.
Em 2019, o anuário de competitividade global realizado pelo IMD, da Suíça, analisou a competitividade de 63 países, colocando o Brasil na 59ª posição. Por que não conseguimos replicar as premissas que alavancaram o nosso desenvolvimento até a década de 80 e passamos a empilhar décadas perdidas? Responder a esse questionamento é vital para encaminhar as linhas mestras de um projeto que se mostre factível e nos tire do atoleiro atual. O estudo do desenvolvimento dos países, suas causas e possíveis soluções não é um assunto novo e vem sendo investigado desde o século XIX por vários estudiosos. Um dos autores mais prolíficos na matéria é o americano Michael Porter, cuja teoria sobre a criação e sustentação da vantagem competitiva não apenas o consagrou, como permitiu compreender melhor os porquês de certas empresas e nações gozarem ou não de posição destacada no conjunto das nações. É importante analisar os conceitos de Porter sobre quais atributos são vitais para que ocorra o crescimento sustentável dos países, já que o Brasil teve a experiência de crescer a taxas médias anuais superiores à 6% a.a., e agora patina em índices abaixo até mesmo da média mundial. Para o professor de Harvard, os países podem buscar a criação e manutenção de vantagem competitiva, desde que observem alguns atributos cruciais para prosperar. Assim como foi possível ao Brasil avançar velozmente durante 50 anos, observando premissas daquela época, uma nova matriz tecnológica e ambiental e uma inédita configuração geopolítica mundial requerem novas posturas. Porter sinaliza que é necessário combinar e articular a estratégia com a estrutura e estimular um contexto de rivalidade positiva entre as empresas. Também ensina que devemos cuidar das condições de demanda, de fatores e das indústrias correlatas e de apoio. Parece muito claro que é urgente investir em um ambiente de negócios que permita a implementação das estratégias sugeridas, hoje lamentavelmente manietadas a um estado perdulário, paquidérmico e ineficiente, que juntamente com a inépcia dos governantes, não apenas golpeiam o gigante sul-americano, mas o acorrentam de forma contundente e comprometedora.