Sábado, 01 de março de 2025

Gleisi Hoffmann no governo Lula pode endurecer articulação e frear contaminação de emendas

A nomeação da presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) tende a endurecer a articulação política e frear a contaminação das emendas parlamentares sobre o governo, num momento em que a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se acentuou.

Ao Estadão/Broadcast Político, um interlocutor da equipe econômica avalia que o perfil de fidelidade a Lula pesou para a escolha de Gleisi para a função. Seu sucesso na nova missão também está relacionado ao tempo que ela levará para trocar a camisa de presidente do partido pela de ministra palaciana.

Para esse interlocutor, como Gleisi tem um perfil de alta fidelidade a Lula, ao assumir a posição de ministra ligada diretamente ao Palácio do Planalto, deverá obediência ao presidente. Por consequência, não deve atacar ou criticar outros integrantes do governo, como a equipe econômica, porque isso seria visto como uma deslealdade.

Em relação aos problemas de popularidade e piora na avaliação do governo, Lula “dobra” a aposta ao nomear Gleisi, em uma tentativa de brecar a contaminação das emendas. A leitura é de que, diante do quadro que pesa para a avaliação negativa do governo, há problemas, como a alta nos preços de alimentos, que são transitórios.

Já a relação com o Congresso, especialmente o montante destinado para as emendas e a liberação, tem um potencial mais danoso para a gestão do Executivo. Ao pôr Gleisi para comandar a articulação, a expectativa é que ela não vai transigir: é alguém da confiança do presidente, que não tem mais condições de ceder orçamento para o Parlamento, e que vai tentar mudar a sistemática de votar um projeto em troca da liberação de um determinado valor em emendas.

Esse seria um ponto que favoreceu Gleisi em relação aos outros cotados para a função. Para esse interlocutor, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), não tinha perfil de defesa da agenda do governo e também não barrava a negociação de emendas. Contra Isnaldo Bulhões (MDB-AL) pesava o fato de não ser do partido.

Já o antecessor de Gleisi na função, Alexandre Padilha, que assumirá o Ministério da Saúde, não teria se firmado no cargo porque pegou algumas das agendas mais “cabeludas” do governo para votar e foi intransigente em algumas coisas.

A avaliação é de que Gleisi é muito hábil e demonstrou bom trânsito entre os parlamentares, mesmo em meio a embates mais duros, sejam durante sua atuação como deputada federal ou como senadora. O principal ponto para que ela seja bem-sucedida na função é o tempo para virar a chave e assumir o perfil conciliador exigido pela SRI, o que pode levar alguns meses.

Relação 

O futuro da relação da equipe econômica com a cozinha do Palácio do Planalto, contudo, divide opiniões na Esplanada. Se, por um lado, há expectativa de que Gleisi deixe de lado o perfil combativo contra a agenda fiscal, por outro, há integrantes do governo que temem que o passado de críticas torne o ambiente ainda mais tenso para a Fazenda e o Planejamento.

Embora considerem que Gleisi no governo é melhor que manter o PT afiado contra o plano econômico, entendem que o clima poderia ser menos belicoso se a petista assumisse a Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo, e não o coração da articulação política.

Outro temor é relacionado ao sinal que Lula passa ao escolher um representante da ala desenvolvimentista para assumir a SRI. O presidente já mostrou que quer virar a chave na segunda parte de seu mandato para reverter a queda de popularidade.

A postura mais populista tende a fortalecer o grupo de Rui Costa no Planalto, responsável pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Tudo acontece enquanto aliados consideram que, para amenizar o mau humor do mercado e evitar novas altas do dólar, Lula deveria fortalecer seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Gleisi já criticou abertamente a agenda tocada por Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. No ano passado, por exemplo, antes do envio do pacote fiscal ao Congresso, a deputada e presidente do PT foi às redes sociais para classificar como “verdadeira covardia” a ideia de desvincular o BPC do valor do mínimo e aumentar a idade mínima para acesso ao benefício.

Os estudos tinham sido citados pelo auxiliar de Simone Tebet, o secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, Sergio Firpo.

Por esse perfil, uma avaliação feita é de que seria mais agradável para a equipe econômica se Lula tivesse optado para SRI por um nome do Centrão, especialmente alguém simpático ao ajuste fiscal. O momento, agora, é de “esperar para ver” como será o desempenho de Gleisi na nova função. (Estadão Conteúdo)

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A reação do Centrão com o anúncio de Gleisi Hoffmann para a articulação do governo Lula
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