Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de agosto de 2024
Cultuado ator francês que estrelou uma série de clássicos entre os anos de 1960 e 1970, Alain Delon morreu no domingo (18), aos 88 anos. A notícia foi confirmada por sua família em uma nota enviada à imprensa francesa. A causa da morte não foi informada.
Alain Delon foi o ator francês mais carismático e famoso da história do cinema, com uma aura escura de lobo solitário que o perseguiu até o final. “Gosto que me amem como eu me amo”. Para este homem que falava de si na terceira pessoa, tudo o que empreendia só podia ser feito desmesuradamente.
Um estilo que, no fim de sua vida, o perseguiu, entre brigas familiares, declarações contraditórias e polêmicas sobre sua carreira e as mulheres.
Príncipe atraente ou gângster indomável, Delon atuou para vários dos melhores diretores da sétima arte e seu poder de atração talvez só tenha sido igualado na história do cinema por Rodolfo Valentino. Outros viram nele uma versão francesa de James Dean. Foi o homem ideal de muitas mulheres e o companheiro durante um tempo de belezas como Romy Schneider, Claudia Cardinale, Simone Signoret ou Mireille Darc. “Foi nelas, no olhar da minha primeira mulher, Nathalie, e nas de Romy (Schneider), Mireille (Darc) ou a mãe dos meus filhos (Rosalie van Breemen) que encontrei a motivação para ser o que fui, para fazer o que deveria fazer”, dizia Delon.
Ator meticuloso diante da câmera, Alain Delon passará à posteridade por um magnetismo comparável ao que Marilyn Monroe ou Brigitte Bardot exerceram sobre os homens.
“Só me faltou fazer o papel de Cristo. Agora já é um pouco tarde”, declarou ao final de sua carreira este ator que teve o talento de se submeter às ordens dos maiores. Trabalhou em cerca de 90 filmes, sob direção de Melville, Visconti, Antonioni, Losey, Godard ou Malle.
Produtor, diretor, empresário e colecionador de arte, era um sedutor rebelde e arrogante, que cultivava na vida real a imagem que irradiava na tela.
O tempo transformou o rosto e prateou os cabelos da fera solitária. Acentuou sua pose de misantropo de onde saboreava a glória, antes de que esta acabasse o saturando porque restringia sua liberdade. “Estava programado para o sucesso, não para a felicidade. São duas coisas incompatíveis”, disse em uma ocasião.
Infância instável
Nascido em 8 de novembro de 1935 em Sceaux, perto de Paris, Delon teve uma infância instável após o divórcio de seus pais. Sua sólida elegância, olhar azul e “rosto de anjo” – um de seus apelidos – não passavam despercebidos no distinto bairro parisiense de Saint-Germain-des-Près que começou a frequentar depois de servir no Exército. O cineasta Jean-Claude Brialy ficou encantado por aquele charme e o convidou para o Festival de Cannes.
Delon se tornou intérprete de um dos maiores, Luchino Visconti. O diretor italiano seria o verdadeiro Pigmalião do jovem ator, cuja inteligência e potencial soube detectar e desenvolver. No teatro, foi visto em Pena que Ela Seja uma Prostituta, encenado por Visconti. A coprotagonista se chamava Romy Schneider e foi o início de um longo relacionamento com a jovem atriz austríaca.
Com Borsalino, de Jacques Deray, alcançou em 1974 um dos maiores triunfos de sua carreira ao lado de Jean-Paul Belmondo, a quem se despediu, emocionado, em 10 de setembro de 2021, quando se celebrou o funeral deste outro monstro do cinema francês.
Alguns diretores exploraram com sucesso suas facetas mais complexas. Para Joseph Losey foi o enigmático protagonista de Cidadão Klein (1976) e Volker Schloendorff o transformou em barão de Charlus, o inalcançável aristocrata homossexual de Um Amor de Swann (1984), adaptação da obra de Proust. Em 2002, após sua separação de Rosalie, não escondeu sua depressão, evocando até mesmo a ideia do suicídio.
Nos anos seguintes, suas aparições públicas se tornaram cada vez menos frequentes, pontuadas de declarações que acentuaram seu isolamento, a favor da pena de morte e da extrema direita ou contra o casamento homossexual. “Não gosto do mundo atual”, dizia.
O ator nunca obteve um prêmio de interpretação no Festival de Cannes, que decidiu conceder-lhe uma Palma de Ouro pelo conjunto da obra em 2019, apesar de todas as suas polêmicas.