Segunda-feira, 06 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de janeiro de 2025
A cada instante nos oferecem à consideração uma lista de hábitos que podem nos fazer mais felizes. Em geral, não há grandes novidades: alimentação saudável, programa de exercícios físicos, controle do estresse, não fumar, não beber, interagir socialmente, etc.
Uma dessas listas, organizada por estudiosos da Universidade de Bristol, alinham, entre os hábitos recomendáveis, dois que me chamaram a atenção: cuidados com as redes sociais e ser gentil.
Não há maiores explicações na matéria do Estadão, mas tendo a concordar que essas duas, especificamente, são, sim, de grande validade e importância,
Nas redes sociais, o caso é que elas são um ambiente tóxico. É como você frequentar um bar de encrenqueiros, onde todo o encontrão involuntário pode gerar um atrito de proporções. Onde cada frequentador está munido de pedras para atirá-las no primeiro infeliz que atravessar o caminho que, pela razão mais vulgar, faça ou diga algo que não agrade. Este, por sua vez, atirará as pedras de volta, com uma fúria ainda maior.
No grande bar da internet – o mais amplo que se possa imaginar – só não existe a bebida para causar ainda mais ataques e agressões. Mas nem seria preciso: as redes, para tal fim, se bastam. No bar dos valentões e das valentonas (e como as mulheres sabem ser agressivas!) não entra ninguém que se disponha a procurar um meio caminho onde as duas tribos possam, quem sabe, dialogar em altos e civilizados termos. E se por engano entrasse e por ingenuidade tentasse pacificar os ânimos, provavelmente seria vaiado e hostilizado pelas duas torcidas.
A sorte é que no ambiente virtual os inimigos não se enfrentam cara a cara. Senão, seria uma Faixa de Gaza, com ampla vantagem para a direita bolsonarista, para quem armas de fogo fazem parte do arsenal da cidadania, de defesa de valores virtuosos e da – vejam só – democracia.
O ambiente tóxico envenena a todos, e cada vez mais, e não há espaço para um debate público de qualidade, uma troca amigável de ideias a predisposição mínima para ouvir o outro. O que parece estar em causa é saber quem dá mais no jogo do ódio e da intolerância.
A primeira providência, então, é a de se afastar de um clima tão destrutivo, que impede a aproximação dos agentes envolvidos, que barra todas as iniciativas de cooperação – o grande motor que produziu os maiores e mais espetaculares avanços da tecnologia e da conduta ética da humanidade. Mas perguntem aos fregueses do grande bar se eles querem sair. Porque sairiam se o que eles estão ali exatamente para ofender e xingar?
Ser gentil, diz a lista de Bristol, é uma forma de ser mais feliz. Ser gentil faz bem para quem recebe e para quem concede. Se eu sou gentil atraio para mim uma aura de bondade e tolerância. O trato cordial amansa o coração, na mesma medida em que a rispidez e a impaciência, a raiva, vindas do fundo das nossas piores sensações, provoca ao redor uma onda de mal-estar, pessimismo e até doença.
Um gesto gentil é o ato inspirado de um anjo bom que habita o nosso interior, a nossa alma, no que nos resta ainda de humanidade, uma trégua no mundo convulsionado em que vivemos.
(titoguarniere@terra.com.br)