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Por Redação Rádio Pampa | 8 de maio de 2020
O maior estudo já realizado até o momento com a hidroxicloroquina mostrou que não há qualquer benefício do uso dela no tratamento da Covid-19. A droga não evitou que pacientes fossem parar no respirador nem reduziu a taxa de mortalidade. O estudo passou por revisão por pares e foi publicado na New England Journal of Medicine (NEJM), uma das mais conceituadas revistas de pesquisa médica do mundo.
A revista lembra que a suposição de que cloroquina e hidroxicloroquina, com ou sem combinação com azitromicina, teriam ação terapêutica contra a Covid-19 é baseada, principalmente, em relatos de médicos e, até agora, não teve comprovação por qualquer estudo capaz de sobreviver à revisão por pares.
Ainda assim, essas drogas tiveram a suposta ação anti-Covid-19 defendida publicamente pelos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump. Essas drogas não são uma panaceia contra o coronavírus, alertou a NEJM.
O novo estudo foi realizado com 1.376 pacientes com Covid-19 atendidos pelo Hospital Presbiteriano, da Universidade de Columbia, em Nova York. A pesquisa foi observacional, isto é, os cientistas não realizaram experimentos específicos com a droga e sim avaliaram o resultado do tratamento com elas administrado por médicos do hospital.
Dos 1.376 pacientes, 60% receberam hidroxicloroquina por cinco dias. O chefe do estudo, Neil Schluger, do Departamento de Pneumologia e Alergias de Columbia, afirmou que os pacientes que receberam hidroxicloroquina não apresentaram qualquer vantagem em relação aos pacientes que não tomaram a droga. “Não pensamos que seja razoável dar essa droga aos pacientes. Não há qualquer razão para fazer isso”, disse Schluger.
O oncologista e hematologista Daniel Tabak, membro da comissão de especialistas (ComCiênciaRJCOVID) que assessora do governo do Estado do Rio no combate do coronavírus, explica que o estudo mostrou o que era importante saber, se a hidroxicloroquina cumpria o objetivo esperado:
“E ela não cumpriu. Não evitou que um paciente fosse intubado nem reduziu a mortalidade.”
Ele acrescenta que o estudo global da OMS, chamado Solidariedade, deve trazer mais dados sobre essa droga e outras testadas contra o coronavírus. A NEJM diz que continuam a ser necessários estudos rigorosos específicos para eliminar quaisquer dúvidas, mas que as informações da pesquisa feita em Nova York são valiosas para os médicos decidam se devem ou não oferecer hidroxicloroquina a seus pacientes.
Tabak observa que o fracasso da droga em testes deixará o Brasil com um excedente de matéria-prima comprado pelo governo federal para que o país, por meio de laboratório do Exército, produzisse em massa o medicamento.
“Esperamos que ao menos possa ser usado para produzir cloroquina e hidroxicloroquina para tratar malária, lúpus, artrite reumatoide e outras doenças para as quais essas drogas realmente funcionam”, diz.