Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de julho de 2022
Épocas de calor excessivo causam nas pessoas sensações como moleza no corpo, cansaço e mais sede do que o normal. Quando termômetros apontam níveis acima de 40ºC e quando a umidade do ar permanece baixa, essa combinação afeta diretamente o organismo humano. Mas será possível morrer de calor?
Adiantamos que, literalmente, ninguém morre de calor. O que acontece é que a exposição excessiva a altas temperaturas desencadeiam uma série de alterações no organismo — essas alterações podem ser graves e, aí sim, levar o ser humano ao óbito.
Para entender como essa situação afeta o corpo humano e quais são os seus reais riscos, a reportagem conversou com o cardiologista Marcelo Sampaio, parte do time médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Hipertermia e as altas temperaturas
O conceito de hipertermia vem da elevação da temperatura do corpo, em níveis que ele não consegue dissipar. “Nosso corpo trabalha com uma faixa estreita de temperatura — de 36°C até 36,7°C, o que seria a nossa faixa normal. Saindo dessa faixa, teríamos uma hipertermia, que é classificada em média, moderada ou severa. Acima de 40°C de temperatura do nosso corpo, não do ambiente, ocorre uma hipertermia severa e significante”, explica o cardiologista.
Mesmo que o corpo humano suporte variações na temperatura externa, que o afetam internamente, as suas respostas variam de condições pré-existentes e do tempo de exposição. “Com uma temperatura acima de 40°C e exposição direta ao Sol por mais de uma hora, você já pode ter algum sinal de hipertermia. A primeira coisa que acontece é uma perda de água, uma desidratação do corpo”, comenta Sampaio. Em paralelo, o corpo começa a suar bastante e o indivíduo sente fraqueza.
“Depende muito, da temperatura em si, do tempo de exposição e do local em que você se encontra”, ressalta o cardiologista, ou seja, o risco não está em ir ao supermercado e andar alguns quarteirões, por exemplo. No entanto, a exposição excessiva ao calor pode causar disfunções em alguns órgãos e afetar seriamente o indivíduo.
Na parte neurológica, é possível sentir desde uma dor de cabeça muito forte, tonturas, irritabilidade, alteração de comportamento, sensação de desmaio e, às vezes, até o próprio desmaio. Em condições adversas, a pessoa pode entrar em um estado de inconsciência (estupor) e “o máximo que poderia acontecer do ponto de vista neurológico, caso a pessoa ficasse exposta a longos períodos, seria o coma”, explica o médico.
Quanto à parte cardiológica, ocorre uma redução da pressão arterial. Há também o aumento da frequência cardíaca e da espessura (engrossamento) do sangue, o que pode desencadear a formação de coágulos. Por sua vez, esses coágulos podem entupir as artérias, ocasionado um infarto ou um derrame, dependendo de onde o fluxo sanguíneo for interrompido.
Entre outros sintomas, a pessoa pode sentir câimbras nos braços e nas pernas por conta do calor excessivo. Além disso, ocorrem alterações na pele, como rubor (vermelhões), ressecamentos e até queimaduras. Essa perda de líquido da pele pode desencadear também alguns tipos de infecções. “Esse é um conjunto de fatores podem acontecer caso a pessoa se exponha ao calor extremo num período muito prolongado de tempo”, completa Sampaio.
Risco de morte
Os maiores riscos com a elevação das temperaturas dependem da idade da pessoa e de suas condições físicas. Por exemplo, um atleta pode suportar de forma muito melhor condições limites, do que um indivíduo acima do peso e sedentário. “Em geral, com temperaturas acima dos 40°C e com mais de uma hora de exposição, todos vão se sentir mal”, afirma Sampaio.
Nesse sentido, crianças são parte do grupo de risco, por ainda estarem em fase de formação e desenvolvimento. No extremo oposto, os idosos podem ser os mais afetados pelas altas temperaturas e pessoas com problemas já existentes, como os cardíacos, já que a exposição prolongada nessas condições pode provocar a aceleração dos batimentos e arritmia cardíaca.
No verão europeu, durante os meses de junho e julho, são relativamente comuns notícias sobre óbitos por causa das ondas de calor. Em 2019, por exemplo, as temperaturas chegaram a 46ºC na França e ceca de 1,5 mil pessoas morreram, sendo a maioria composta por idosos. Já em 2022, o Reino Unido sofreu, em julho, o dia mais quente de sua história, registrando a marca de 40,2 ºC.