Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

História do carnaval

Carnaval é sinônimo de alegria, descontração, irreverência. Blocos, escolas e foliões aproveitam os dias de momo pra exercitar a liberdade. De certa forma, retomam o tempo das saturnais romanas. Era um período alegre.

Os servidores públicos entravam em recesso. Os tribunais fechavam as portas. Nenhum criminoso podia ser punido. Libertavam-se os escravos para assistirem aos festejos. As famílias ofereciam banquetes.

Durante as celebrações, invertiam-se as posições sociais. Os escravos davam ordens aos senhores. Os senhores lhes serviam iguarias à mesa. Todos se mascaravam para ficar mais à vontade. Há quem diga que as máscaras nasceram aí. No Brasil, reservam-se quatro dias no calendário pra brincar — com disfarces ou sem disfarces.

Sem brincadeirinhas

Carnaval é coisa séria. Tão séria que a Igreja o controla. É a Santa Sé que manda na festa. Começa pelo calendário e chega ao nome. Ela diz: “O momo só pode reinar 40 dias antes da quaresma. Vai do Dia de Reis (6 de janeiro) à quarta-feira de cinzas. Depois disso, o mundo se veste de roxo”. (Este ano a pandemia mudou o calendário.)

Cadê autonomia?

A quarta-feira de cinzas depende da Páscoa. A ressurreição de Cristo se comemora no primeiro domingo depois do primeiro domingo de Lua cheia de março. Em que dia cai? Varia. Depende dos caprichos do satélite da Terra.

O batismo

A Igreja foi além do calendário. Interferiu no nome. Carnaval vem de carne. Significa dias em que a carne é liberada. Opõe-se à quaresma, período de abstinência. Como festa pagã, escreve-se com inicial minúscula.

Antes de chegar a esta alegre Pindorama, a palavrinha bateu pernas. Desembarcou aqui por via do italiano carnevale. Mas seu berço é o latim. Na língua dos Césares, significava “adeus à carne”.

Família

O carnaval deitou e rolou nesta terra mestiça. Deu filhotes. Dele nasceu carnavalesco. O sufixo –esco é velho conhecido nosso. Aparece em adjetivos. Mas não qualquer adjetivo. Só nos derivados de substantivos. Quer dizer semelhante, parecido. Carnavalesco é semelhante a carnaval. Dantesco, a Dante. Burlesco, a burla (zombaria). Momesco, a momo.

A família cresceu. Veio o neto — o advérbio carnavalescamente. Reparou? Ele é filho do adjetivo (carnavalesco). Cuidado ao usá-lo. Dizer que uma pessoa se comporta carnavalescamente às vezes ofende. O recado é este: você age como se estivesse no carnaval. Parece palhaço.

Samba

Carnaval sem samba? Nem pensar. Há o samba da gema e variações pra dar e vender. Samba-canção, samba-choro, samba-enredo, samba-exaltação, samba-roda são algumas. Todas têm um denominador comum. Aceitam dois plurais.

Um: flexionam-se os dois termos (sambas-canções, sambas-choros, sambas-enredos, sambas-lenços, sambas-rodas). O outro: só o primeiro ganha s. Aí subentende-se a expressão que servem de: sambas- (que servem de) canção, sambas-choro, sambas-enredo, sambas-exaltação, sambas-roda.

O lugar

Era o maior rolo. Ninguém sabia onde as escolas desfilariam. Todos os anos, a novela se repetia. Em 1994, o governador do Rio tomou uma decisão. Chamou Oscar Niemeyer e disse: “Vamos escolher um local definitivo para as escolas se apresentarem”. Dito e feito.

Que nome dar à novidade? Darcy Ribeiro sugeriu sambódromo. O professor buscou no grego o elemento -dromos. Significa corrida ou lugar de corrida. Daí hipódromo (local para corridas de cavalos). Por analogia, sambódromo seria o local para desfile do samba.

Leitor pergunta

Por que a palavra abdômen leva acento e o plural abdomens não leva?

Marcelo Coelho, Lago Norte

Abdômen joga no time de éden e hífen. É paroxítona terminada em en. O plural abdomens, edens e hifens entra na equipe de jovens, homens, virgens. São paroxítonas terminadas em ens. Nada de grampinhos ou chapeuzinhos.

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