Domingo, 22 de dezembro de 2024

Infectar mosquito com bactéria é efetivo para reduzir a dengue

O método que envolve infectar o mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia – que impede o desenvolvimento de determinados vírus no inseto – é eficaz para reduzir a incidência da dengue e chikungunya, comprovou um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

A estratégia, desenvolvida pelo World Mosquito Program (WMP), é implementada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao analisar os dados do projeto no Rio de Janeiro, os cientistas da universidade britânica constataram os resultados positivos, publicados na revista científica The Lancet Infectious Diseases.

A Wolbachia é uma bactéria presente em 60% dos insetos na natureza, mas que não é encontrada no Aedes aegypti. Os pesquisadores do WMP, iniciativa global para combater as doenças transmitidas por mosquitos, desenvolveram então uma forma de infectar os indivíduos da espécie com o microrganismo, que então são liberados para se reproduzirem criando assim uma população de mosquitos com Wolbachia.

Isso porque a bactéria impede que os vírus responsáveis pela dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam no inseto, consequentemente interrompendo a transmissão dessas arboviroses para os humanos. No Brasil, o método Wolbachia, como ficou nomeado, é conduzido pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde em parceria com os governos locais. No momento, é testado nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, no Estado do Rio; em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul; em Belo Horizonte, de Minas Gerais; e Petrolina, em Pernambuco.

No ano passado, dados divulgados pela Fiocruz e pela WMP Brasil, já haviam apontado que o método é altamente eficaz em combater as doenças. Com base nos resultados da cidade de Niterói, onde a estratégia é implementada desde 2015 e já cobriu mais de 75% do município, foi observada uma redução de 70% nos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika.

“Esses números estão publicados em artigo científico e corroboram os dados do WMP em outros países, como na Indonésia, onde houve redução de 77% dos casos e 86% das hospitalizações”, afirma o pesquisador da Fiocruz e líder do WMP Brasil, Luciano Moreira, em comunicado.

Já no Rio de Janeiro, o ambiente geograficamente diversificado oferece uma complexidade maior para a implementação do método, levando a uma prevalência de menos da metade dos mosquitos com Wolbachia (cepa wMel) após a estratégia. Ainda assim, os dados avaliados pela Universidade de Cambridge e publicados recentemente indicaram uma redução de 38% nos casos de dengue, e 10% de chikungunya, comprovando a efetividade para combater as arboviroses.

Na capital fluminense, a liberação teve início em 2017 e, em dezembro de 2019, 29 meses depois, a prevalência da Wolbachia variou entre 27% e 60% nos mosquitos. Segundo a Fiocruz, mesmo em áreas onde a cobertura foi mais baixa, com apenas 10%, já houve um efeito protetor. Porém, em regiões onde houve mais de 60% dos insetos, a redução chegou a ser de 76% dos casos de dengue – semelhante à de Niterói e da Indonésia.

“O estabelecimento da cepa wMel em comunidades urbanas complexas como o Rio de Janeiro é um grande desafio. E compreender porque a introgressão do wMel em populações de Aedes aegypti é mais rápida e homogênea em alguns locais do que em outros são conclusões que ajudarão a orientar futuros programas de liberações de mosquitos com Wolbachia”, explica Moreira.

Para a fundação, o estudo publicado na Lancet comprova que o método consegue reduzir consideravelmente o impacto das arboviroses na saúde pública brasileira e de outros países do mundo que sofrem com altas taxas de dengue, por exemplo.

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