Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 4 de outubro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro tiveram um peso menor como puxadores de voto do que o esperado nas campanhas para prefeito das principais capitais do País. Em alguns casos, candidatos não fizeram questão de enfatizar sua ligação com o aliado.
Em outros, a associação não se traduziu em uma avalanche de intenções de voto. Para o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, o grande vencedor das disputas deverá ser o Centrão, cujos candidatos vêm liderando com folga em diversas capitais.
Em entrevista ao Valor, Teixeira, que é professor e coordenador do mestrado e do doutorado profissional em gestão e políticas públicas da FGV-Eaesp, avalia ainda a acirrada disputa na capital paulista e as implicações dos possíveis resultados para as eleições de 2026.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
1) A polarização nacional entre Lula e Bolsonaro se refletiu nas campanhas à
prefeitura das capitais neste primeiro turno?
Não dá para dizer que a disputa nacional tenha determinado a agenda eleitoral local. Em São Paulo, por exemplo, havia a expectativa dessa polarização, que seria representada por Ricardo Nunes [do MDB, apoiado por Bolsonaro] e Guilherme Boulos [do Psol, apoiado por Lula]. Mas a chegada de Pablo Marçal [influenciador do nanico PRTB] embaralhou tudo. Marçal trouxe o debate para ele e, digamos assim, virou o tema. Além disso, o próprio Bolsonaro não entrou na campanha de Nunes. No Rio, a disparada do Eduardo Paes [PSD] desanimou o bolsonarismo, embora agora, com essa oscilação de pesquisa, Bolsonaro tenha decidido estar mais presente para ver se força um segundo turno [entre seu candidato Alexandre Ramagem e Paes]. Por outro lado, Paes não fez questão que o Lula estivesse na sua campanha.
Em Belo Horizonte, não houve essa competição [entre um candidato à esquerda e outro à direita] porque os três primeiros colocados são do campo conservador. Em Salvador não dá para dizer que o Bruno Reis seja o candidato do Bolsonaro. Reis, na verdade, evitou essa associação direta. Em Porto Alegre e em Fortaleza essa polarização aparece mais. Mas o panorama nacional destas eleições não é um panorama de polarização Lula e Bolsonaro.
2) Isso é sinal de uma possível perda de força de Lula e Bolsonaro como
puxadores de votos?
São duas questões. Uma é essa: há um cansaço [por parte do eleitor em relação a essa polarização] e há uma perda de força deles. A segunda questão é que
a agenda municipal afeta muito o cidadão. Os candidatos a prefeito são forçados a falar de coleta de lixo, de saúde, de creche, diferentemente dos candidatos a governo de Estado, que têm mais espaço para transformar a agenda nacional num debate na eleição. Nas municipais esse espaço é menor.
3) Em São Paulo, se Bolsonaro não apareceu na campanha à reeleição de
Nunes, Lula esteve sempre presente nas propagandas de Boulos. No entanto, o
presidente parece não ter conseguido até agora transferir para o aliado o potencial de voto que seria esperado. Por quê?
Primeiro, acho que parte do PT não se sentiu incluída no processo decisório [de não ter candidato próprio e apoiar o Psol]. Outro fator foi como Lula
trouxe a Marta Suplicy [ex-prefeita e atual candidata a vice de Boulos] de volta para o PT. A forma como ela tinha saído do partido, posando com o [ex-presidente da Câmara dos Deputados] Eduardo Cunha, votando pelo impeachment da Dilma Rousseff, nunca foi bem digerida pelo PT. Resultado: o PT demorou para entrar na campanha de Boulos este ano, se é que entrou de fato. Além disso, Lula tem um terceiro mandato com uma governabilidade muito difícil e isso diminui a capacidade dele de intervenção política. Mas há ainda outro elemento. A aprovação popular do governo é baixa [pesquisa Quaest divulgada esta semana aponta que apenas 32% dos entrevistados fazem uma avaliação positiva da gestão] e quando a aprovação é baixa a capacidade do político de influenciar os eleitores no processo decisório também passa a ser muito baixa.
Em São Paulo também pesa a questão da candidatura de Tabata Amaral, do PSB. Ela é a candidata do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e é de um partido estratégico em alianças com o PT. Isso cria um clima que não permite entrar na campanha de corpo e alma [por parte do PT]. Por mais que a Tabata tenha começado a bater no Boulos, ele em momento nenhum partiu para o confronto com ela porque sabe que se for para o segundo turno essa é uma aliança que ele buscará.