Domingo, 22 de dezembro de 2024

Lembranças que ficaram (409): Uma linda viagem e um herói da FEB

Vejam só como são as coisas: Na crônica anterior de nº 39 da quarta feira passada, escrevi sobre a história de um Caça da FAB ter caído na Lagoa dos Patos lá por volta de 1982, mas que não tinha certeza se o fato tinha mesmo ocorrido, ou se era uma lenda urbana, ou se tinha sido “encoberto”. No mesmo dia (11.09.24) recebi uma esclarecedora informação através do Sr. Roberto Gruner que me esclareceu e ilustrou sobre o assunto: o avião caça 4831 da FAB, de fato, caiu na Lagoa no dia 28.07.1982, sua queda confirmada em 11.08.82 e dado como desaparecido em 07.09.82. Era pilotado pelo Tenente Aviador Edson Luíz Chiapetta Macedo que fazia treinamento tático, instruído por outro caça matrícula 4834 pilotado pelo Capitão Aviador Valter Augusto Donato de Jesus. Passaram-se exatos 40 anos e um dia o pescador profissional José Ortiz, morador de Palmares do Sul, ao recolher sua rede, na Lagoa, veio junto alguns pedaços metálicos estranhos. Ele desconfiou e informou seu conhecido, o Comandante Aviador Civil e Velejador Cristian Yanzer de Lima, dono do Veleiro Viking, que foi ao local e acabaram por trazer à tona um pedaço de um dos motores que, examinados, a FAB confirmou serem do Caça desaparecido 40 anos antes. Assim, fica confirmado que o fato ocorreu, que não era lenda e nem que havia sido “abafado”. Valeu. Assim não só eu, mas todos ficam sabendo o que aconteceu. Obrigado Sr. Roberto Gruner, Sr. José Ortiz e Sr. Cristian Yanzer.

A história de hoje nos conta que nas férias de verão de 1950, na virada para 1951, meu pai resolveu fazer uma viagem de passeio e recordações pelas “Terras Sagradas” onde moravam dezenas de famílias parentes diretas, indiretas, por afinidade, por gosto e nem sei mais por quês. Esse pessoal todo morava (e ainda mora) em Faxinal do Soturno, São João do Polésine, Vale Vêneto, Val de Buia, Silveira Martins, Três Mártires, Ivorá, Val de Serra e Santa Maria. Eram ‘terras sagradas’ porque quando meu bisavô chegou da Itália, todos foram instalados na chamada “Quarta Colônia” já com uma “penca” de filhos. Nessa viagem eu tinha 11 anos.

Meus pais sempre muito religiosos eram amigos de uma centena de padres e subiam por toda escala hierárquica, passando pelo bispo da Diocese até chegar ao Arcebispo de Porto Alegre. Anos mais tarde eles tiveram o privilégio de terem sido recebidos em audiência privada pelo Papa João Paulo II (setembro de 1986) pois que meu pai era Presidente do chamado “Serra Clube” organização religiosa voltada às Vocações Sacerdotais. Nessa época o Papa já havia estado em Porto Alegre.

Voltando a nossa viagem de 1951, nela eu conheci velhos com 80 e mais anos de idade, imigrantes originais aqui aportados em 1875 e 1880, o que me deixava impressionado e conversar com eles era emocionante, como foi o caso do simpático velhinho Giusepe Pivetta, pai de dois padres e de duas freiras. O enorme e bem confortável casarão, todinho de pedra, ainda deve estar por lá. Nunca mais voltei. Mas tenho foto. Que me lembro conheci parentes com nome Tomazetti, Viecilli, Zago, Anversa, Trevisan e outros, inclusive diversos Sanfelices, todos descendentes do patriarca imigrante Pietro.

Todas – e foram muitas – famílias visitadas, eram distantes umas das outras, nos receberam com muita alegria e hospitalidade e eram tantos parentes que algumas vezes tivemos que almoçar numa e jantar noutra. Num dos domingos que lá passamos almoçamos na casa de um deles que não lembro o nome, onde tinha umas 10 crianças regulando de idade comigo. Ao me despedir do mais velho disse-lhe: “vou sentir saudades de brincar contigo e te dou um abraço bem forte por que acho que a gente só vai se ver de novo daqui uns 10 anos”. Todo mundo riu: “ora 10 ANOS…”. Pois é, não fazem 10….fazem mais de 70 anos e nunca mais vi o dito cujo e nunca mais visitei à região…Curioso como as coisas são….

Nessa viagem, visitamos uma família de um primo de meu pai chamado Geraldo Sanfelice. Ele era herói de guerra e fora soldado da FEB e perdeu uma perna na explosão de uma granada alemã, na batalha de Monte Fornovo, na tomada de Monte Castelo, na Itália. Ele contou que de tempos em tempos, o Governo Americano mandava pra ele uma prótese (perna) nova, cada vez mais evoluída. Eu venerei esse herói…soldado, humilde, cheio de medalhas e de uma simplicidade cativante. Morreu com 84 anos.

Toda a região da então chamada 4ª Colônia é um lindo cenário de montanhas, vales, penedos e várzeas, povoada por descendentes de imigrantes italianos e seu ‘jeito’ de vida é cativante e lindo. Vale visitar, provar sua culinária e ver e ouvir o “talian” falado em todo lugar. Parece uma viagem à Itália, sem sair do Rio Grande. Se puder, visite. Tem “pousadas” em todos lugares.

(Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)

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Lembranças que ficaram (409): Uma linda viagem e um herói da FEB

Vejam só como são as coisas: Na crônica anterior de nº 39 da quarta feira passada, escrevi sobre a história de um Caça da FAB ter caído na Lagoa dos Patos lá por volta de 1982, mas que não tinha certeza se o fato tinha mesmo ocorrido, ou se era uma lenda urbana, ou se tinha sido “encoberto”. No mesmo dia (11.09.24) recebi uma esclarecedora informação através do Sr. Roberto Gruner que me esclareceu e ilustrou sobre o assunto: o avião caça 4831 da FAB, de fato, caiu na Lagoa no dia 28.07.1982, sua queda confirmada em 11.08.82 e dado como desaparecido em 07.09.82. Era pilotado pelo Tenente Aviador Edson Luíz Chiapetta Macedo que fazia treinamento tático, instruído por outro caça matrícula 4834 pilotado pelo Capitão Aviador Valter Augusto Donato de Jesus. Passaram-se exatos 40 anos e um dia o pescador profissional José Ortiz, morador de Palmares do Sul, ao recolher sua rede, na Lagoa, veio junto alguns pedaços metálicos estranhos. Ele desconfiou e informou seu conhecido, o Comandante Aviador Civil e Velejador Cristian Yanzer de Lima, dono do Veleiro Viking, que foi ao local e acabaram por trazer à tona um pedaço de um dos motores que, examinados, a FAB confirmou serem do Caça desaparecido 40 anos antes. Assim, fica confirmado que o fato ocorreu, que não era lenda e nem que havia sido “abafado”. Valeu. Assim não só eu, mas todos ficam sabendo o que aconteceu. Obrigado Sr. Roberto Gruner, Sr. José Ortiz e Sr. Cristian Yanzer.

A história de hoje nos conta que nas férias de verão de 1950, na virada para 1951, meu pai resolveu fazer uma viagem de passeio e recordações pelas “Terras Sagradas” onde moravam dezenas de famílias parentes diretas, indiretas, por afinidade, por gosto e nem sei mais por quês. Esse pessoal todo morava (e ainda mora) em Faxinal do Soturno, São João do Polésine, Vale Vêneto, Val de Buia, Silveira Martins, Três Mártires, Ivorá, Val de Serra e Santa Maria. Eram ‘terras sagradas’ porque quando meu bisavô chegou da Itália, todos foram instalados na chamada “Quarta Colônia” já com uma “penca” de filhos. Nessa viagem eu tinha 11 anos.

Meus pais sempre muito religiosos eram amigos de uma centena de padres e subiam por toda escala hierárquica, passando pelo bispo da Diocese até chegar ao Arcebispo de Porto Alegre. Anos mais tarde eles tiveram o privilégio de terem sido recebidos em audiência privada pelo Papa João Paulo II (setembro de 1986) pois que meu pai era Presidente do chamado “Serra Clube” organização religiosa voltada às Vocações Sacerdotais. Nessa época o Papa já havia estado em Porto Alegre.

Voltando a nossa viagem de 1951, nela eu conheci velhos com 80 e mais anos de idade, imigrantes originais aqui aportados em 1875 e 1880, o que me deixava impressionado e conversar com eles era emocionante, como foi o caso do simpático velhinho Giusepe Pivetta, pai de dois padres e de duas freiras. O enorme e bem confortável casarão, todinho de pedra, ainda deve estar por lá. Nunca mais voltei. Mas tenho foto. Que me lembro conheci parentes com nome Tomazetti, Viecilli, Zago, Anversa, Trevisan e outros, inclusive diversos Sanfelices, todos descendentes do patriarca imigrante Pietro.

Todas – e foram muitas – famílias visitadas, eram distantes umas das outras, nos receberam com muita alegria e hospitalidade e eram tantos parentes que algumas vezes tivemos que almoçar numa e jantar noutra. Num dos domingos que lá passamos almoçamos na casa de um deles que não lembro o nome, onde tinha umas 10 crianças regulando de idade comigo. Ao me despedir do mais velho disse-lhe: “vou sentir saudades de brincar contigo e te dou um abraço bem forte por que acho que a gente só vai se ver de novo daqui uns 10 anos”. Todo mundo riu: “ora 10 ANOS…”. Pois é, não fazem 10….fazem mais de 70 anos e nunca mais vi o dito cujo e nunca mais visitei à região…Curioso como as coisas são….

Nessa viagem, visitamos uma família de um primo de meu pai chamado Geraldo Sanfelice. Ele era herói de guerra e fora soldado da FEB e perdeu uma perna na explosão de uma granada alemã, na batalha de Monte Fornovo, na tomada de Monte Castelo, na Itália. Ele contou que de tempos em tempos, o Governo Americano mandava pra ele uma prótese (perna) nova, cada vez mais evoluída. Eu venerei esse herói…soldado, humilde, cheio de medalhas e de uma simplicidade cativante. Morreu com 84 anos.

Toda a região da então chamada 4ª Colônia é um lindo cenário de montanhas, vales, penedos e várzeas, povoada por descendentes de imigrantes italianos e seu ‘jeito’ de vida é cativante e lindo. Vale visitar, provar sua culinária e ver e ouvir o “talian” falado em todo lugar. Parece uma viagem à Itália, sem sair do Rio Grande. Se puder, visite. Tem “pousadas” em todos lugares.

(Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)

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