Sábado, 23 de novembro de 2024

Liderada pela UFRGS, expedição à Antártica parte do Rio Grande do Sul para estudar mudanças climáticas

Cientistas de seis países embarcaram nesta sexta-feira (22) para uma expedição de dois meses na Antártica. Os 61 pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile, Peru, China e Rússia partiram da cidade de Rio Grande (RS), e seguem de navio para o continente gelado no Polo Sul. A jornada é coordenada pelo pesquisador e explorador polar Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A viagem deve durar seis dias a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica, da Rússia. A Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica vai percorrer mais de 20 mil quilômetros em toda a costa da Antártica. Ao todo, a embarcação fará 16 paradas no continente gelado, para coletar material em diversas regiões. O retorno dos pesquisadores está previsto para o dia 25 de janeiro de 2025.

“Nós sabemos que a Antártida já contribui para o aumento do nível do mar, embora a maior parte desse processo ainda esteja relacionada ao que acontece na Groenlândia e nas geleiras espalhadas pelos oceanos”, disse Simões.

“Só que as projeções indicam que, na próxima década, a Antártida vai se tornar o principal componente desse fenômeno”, antevê ele.

Mas o pesquisador destaca que algumas hipóteses apontam que parte do manto de gelo da Antártida pode ser “dinamicamente estável” por questões como a inclinação do terreno — ou seja, será que a partir de certo momento a água descongelada vai começar a correr para o oceano ou para o centro do continente? Em segundo lugar, o time de especialistas quer avaliar “as rápidas mudanças no Oceano Austral”, também chamado de Oceano Antártico.

“Esse oceano é um dos que tem apresentado os sinais mais amplificados das mudanças climáticas”, resume Simões.

O pesquisador explica que a região sofre com fenômenos como o aumento da temperatura da superfície do oceano e da atmosfera.

“Também ocorre a diminuição da salinidade, porque a Antártida está despejando água doce, que vem das geleiras, no mar”, acrescenta ele.

A equipe conta com 27 brasileiros, vinculados a instituições ligadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq). Dois deles são mineiros e professores do departamento de solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV): Márcio Rocha Francelino e José João Lélis de Souza.

José João Souza é geógrafo, doutor em agronomia. Ele já esteve em outras quatro expedições na Antártida. Ele conta que o diferencial dessa viagem é a possibilidade de explorar locais novos ao redor do continente.

“E a segunda vez na história da humanidade que essa expedição é feita. Nós vamos visitar áreas que nunca foram estudadas ou com muito pouco estudo. A Antártica é extremamente importante porque ela basicamente controla todas as condições climáticas que a gente tem, tanto marítimas quanto atmosféricas da América do Sul”, diz o cientista.

O projeto dos pesquisadores mineiros avalia há 14 anos a permafrost, a camada de solo que permanece congelada. São mais de 30 pontos que monitoram a variação de temperatura. Com essa expedição, serão instalados mais quatro sítios.

“Se o permafrost começa a se aquecer por causa das mudanças climáticas, a gente tem a emissão de gases de efeito atmosférico, efeito estufa, que pode acelerar a temperatura não só na Antártida, mas também no planeta. Agora vamos para zonas mais frias e secas, clima de deserto polar. Esperamos que a atividade biológico seja menor e com características extremas como as encontradas só em Marte ou outros planetas”, explica o doutor José João Souza.

Para a expedição, os cientistas passam por treinamento físico e psicológico. São dois meses longe da família e em local, muitas vezes, sem nenhuma comunicação. As condições são realmente extremas. Mesmo nesta época do ano, quando há mais incidência de sol, a temperatura pode chegar a 10 graus negativos. Em algumas áreas o solo perde a cobertura de gelo, o que facilita a coleta de material. Mesmo assim é necessário percorrer uma longa distância a pé e carregar peso.

Ao final dos estudos, todos os dados serão unificados para uma análise global do cenário e do impacto das mudanças climáticas.

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