Domingo, 22 de dezembro de 2024

Limites e frustrações têm que fazer parte da educação das crianças

Uma criança quer algo que não pode ter. A sobremesa antes do almoço, um brinquedo caríssimo de Natal ou a janela do avião. Infelizmente, nem todos os desejos, infantis ou adultos, podem ser atendidos.

Nos últimos dias, o caso de um menininho que queria sentar na janela de um avião, mas a passageira não quis trocar de lugar — e acabou sendo filmada, acusada de falta de empatia —, causou intenso debate. Mas, afinal, como os pais e a sociedade como um todo devem lidar com o querer de uma criança e sua chorosa frustração?

O primeiro passo, de acordo com especialistas, é entender que querer coisas não é um problema.

“As crianças querem coisas e isso é maravilhoso, ter vontade é maravilhoso, queremos gente com vontade no mercado de trabalho, na vida. Frustrar todos os quereres porque a vida precisa de limites pode jogar para a sociedade gente sem vontade”, explica psicopedagoga e educadora parental Isa Minatel, autora do livro “Crianças sem limites” (editora Figurati).

Mas aí, naturalmente, as coisas muitas vezes não dão certo. E quando a criança não tem o que quer, ela vai ter raiva e vai chorar.

“A criança está tendo uma manifestação de uma fase do seu desenvolvimento, que é a fase da birra. É normal, ela não tem controle de impulso, não tem discernimento para julgar se querer aquilo é algo certo ou errado, ela está na luta pela autonomia, que é absolutamente coerente com seu momento de desenvolvimento, e ela só está manifestando seu desejo”, diz o pediatra e colunista do Globo, Daniel Becker.

O grande problema é que parte dos pais, e até da sociedade, não consegue tolerar essa decepção e seus efeitos.

“É fundamental a gente ter a noção de que não é tarefa nossa fazer nossos filhos felizes a qualquer custo. É preciso de fato dar limite, deixar eles enfrentarem as adversidades, enfrentarem os pequenos machucados da infância, para que os grandes machucados que vão vir mais tarde, metaforicamente, sejam melhor aceitos e suportados”, completa Becker.

De acordo com os especialistas, parece que passamos de um extremo ao outro nas últimas décadas: “viemos de uma relação autoritária com as crianças, miramos em uma relação positiva e acertamento em uma relação permissiva. Quando só temos duas opções, a palmada ou o sim para tudo, estamos sempre em desequilíbrio. Entre o branco e o preto estão os tons de cinza e é ali que a gente se aproxima do equilíbrio”, afirma Isa Minatel.

Ou seja, se alguém ainda acha que falta palmada ou que antigamente era muito melhor, pode parar por aí.

“A pior escolha é sempre a violência, que gera trauma e resultados péssimos para a vida adulta. Crianças que sofrem violência na infância, seja verbal, psicológica ou física, têm maior propensão à doença crônica, problemas sociais, no casamento, nas relações com os próprios filhos, no trabalho, uso de drogas, enfim, um monte de problemas comprovados pela ciência”, enfatiza o pediatra.

Não pode tudo

Por outro lado, a permissividade também é nociva, argumenta o especialista: “se você diz à criança que ela pode tudo, não coloca limites claros e regras firmes, não a deixa se expor a certas frustrações e adversidades, impede de desenvolver a própria autonomia e a capacidade de lidar com a vida e os seus problemas. Essa criança também vai ser insegura, vai ter baixa autoestima, ser narcisista, também terá problemas de relacionamento e tudo mais.”

Para o psicólogo, mestre em educação e palestrante Marcos Meier, não adianta: é responsabilidade dos pais educar os filhos e isso envolve encarar essas situações.

“O que que é uma educação de qualidade? É você fazer com que seu filho seja maduro emocionalmente de acordo com a idade, mas cada vez mais, porque se a gente esperar que a maturidade venha aos 18, aos 20, não vai vir. É o que a gente está vendo, jovens de 25, 30 anos, com comportamento infantilizado”, afirma.

A maioria dos pais tenta acertar e às vezes pode realmente ficar meio perdido com o drama das crianças. Ninguém gosta de ver aquelas lágrimas escorrendo pela carinha amada. A resposta unânime dos especialistas é: acolhimento. Conversar calmamente com o pequeno, dar um abraço, respeitar seu sofrimento com carinho e empatia. As informações são do jornal O Globo.

 

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