Quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de novembro de 2024
O resultado frustrante das eleições municipais acelerou o debate interno, no governo e no PT, sobre 2026, quando serão escolhidos novos deputados e senadores. Segundo interlocutores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu priorizar a disputa no Senado.
A Casa tem, entre outras, a atribuição de pautar o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), bandeira bolsonarista que desperta preocupação no Planalto. Além disso, houve nos últimos anos um avanço da oposição no Senado, que também é prioridade para o grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2026.
Diante disso, Lula já começou a desenhar as chapas que poderão fazer frente a candidatos de direita. Conforme o jornal Valor, nas últimas semanas, o petista intensificou essas conversas com seus auxiliares mais próximos sobre nomes que teriam força suficiente para vencer a eleição.
“O presidente Lula verbaliza em todas as oportunidades que o Senado vai ser a eleição mais importante [em 2026]. Bolsonaro também tem dito isso”, disse um interlocutor próximo. “A eleição do Senado tende a se tornar a eleição onde os times vão colocar suas estrelas principais”, acrescentou.
Lula já bateu o martelo em alguns Estados: o primeiro deles foi Rio Grande do Sul, onde o nome da base aliada que irá disputar o Senado é o do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta. A chapa deve ter também o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, que foi escalado por Lula para disputar o governo do Rio Grande do Sul.
A esperança do PT é que Pimenta consiga herdar os votos do colega Paulo Paim (PT), senador por três mandatos seguidos, desde 2003, e não deve concorrer. “Ainda não há conversas oficiais nesse sentido, mas na informalidade esse é um cenário conversado”, disse Pretto ao Valor.
“Fico feliz que meu nome surja naturalmente, por conta do bom desempenho na última eleição”, completou, referindo-se ao fato de ter ido ao segundo turno contra o governador Eduardo Leite (PSDB) em 2022.
Também está praticamente certo que a atual governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), irá disputar a vaga ao Senado em 2026, após concluir seu segundo mandato.
Em outros Estados, no entanto, há mais divergências do que consensos. Um exemplo é a Bahia, onde Lula terá que atuar para conciliar a relação entre os diferentes nomes da base aliada que desejam buscar uma eleição para o Senado.
A expectativa do PT é colocar o nome do ministro da Casa Civil, Rui Costa, como candidato a uma vaga no Senado e, ao mesmo tempo, renovar o mandato do atual líder do governo na Casa, senador Jaques Wagner.
O problema é que isso implicaria numa chapa “puro-sangue” do PT, em detrimento dos interesses de partidos da base aliada na Bahia. O governista Angelo Coronel (PSD), por exemplo, terá o mandato encerrado. Isso poderia criar turbulências entre a gestão Lula e o PSD, de Gilberto Kassab.
Alagoas é outro terreno delicado. O mandato de Renan Calheiros (MDB) no Senado, um importante aliado do Executivo, chega ao fim na próxima eleição. Ele tentará a reeleição justamente quando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), deverá buscar uma vaga como senador. Os dois são históricos adversários políticos.
Além disso, a gestão petista teme perder para o grupo de Lira o governo de Alagoas – hoje comandado por Paulo Dantas (MDB). O aliado do presidente da Câmara cotado para disputar o governo é o atual prefeito de Maceió, JHC (PL). Diante disso, uma saída seria emplacar a candidatura do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), ao governo.
“O JHC só não irá [ao governo de Alagoas] se o candidato for o Renan Filho. Só Renan para enfrentá-lo. Se Renan não for, aí ele [JHC] vai e isso significa a gente perder o governo [de Alagoas]”, disse uma fonte próxima a Lula. O empecilho principal, porém, é que Renan Filho já foi governador por dois mandatos e assumiu uma vaga de senador há apenas dois anos.
Esse cenário vem fazendo o grupo de Lira tentar um acordo nos bastidores. A ideia é oferecer a Lula uma chapa que tenha JHC como candidato a governador, com Lira e Calheiros saindo juntos ao Senado. Essa proposta depende, porém, de uma trégua entre Lira e Calheiros, algo que já vem sendo especulado há algum tempo.
O resultado ruim nas eleições municipais também deve trazer impactos sobre a definição da chapa em São Paulo, onde Lula vem enfrentando dificuldades. A derrota de Guilherme Boulos (Psol) provocou reação na cúpula do PT, que a partir de agora rejeita abrir espaço para ele outra vez.