Quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Machado de Assis, Ziraldo, Jeferson Tenório: lista de autores já censurados no Brasil inclui grandes nomes da literatura

Uma passagem do livro “O menino marrom”, de Ziraldo, incomodou um grupo de pais da cidade de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, e fez com que a Secretaria de Educação local retirasse o título da rede municipal de ensino. Assim, o autor entrou para uma lista de autores que tiveram obras recentemente censuras no Brasil, entre eles Machado de Assis e Jeferson Tenório.

Veja abaixo uma lista com alguns livros que foram censurados em território nacional recentemente:

* “O Menino Marrom”, de Ziraldo

Este livro é um dos mais importantes da carreira de Ziraldo, lançado em 1986, e apresenta a amizade entre duas crianças, uma preta e outra branca. É um clássico dentro das escolas brasileiras, mas um grupo de pais de Conselheiro Lafaiete se incomodou com o trecho da história em que os dois protagonistas decidem fazer um pacto de sangue para selar a amizade entre eles e pegam uma faca. Na sequência, eles desistem da ideia e buscam um alfinete, mas voltam a mudar de ideia e decidem usar apenas tinta vermelha. Como não acham o item, fazem a parceria com tinta azul.

Segundo esses pais, ao invés de abordar o tema do racismo, o texto induziria as crianças a praticarem o pacto de sangue cortando o próprio punho. Eles também chamam atenção para a passagem em que um dos protagonistas deseja que uma idosa que o trata mal seja atropelada a caminho da missa.

“O menino marrom” foi distribuído para crianças do 3º e 4º ano (com idades entre 8 e 10 anos), antes de ser recolhido pela prefeitura na quarta-feira (19). Em nota, a secretaria afirmou que a obra “é um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade”, mas, diante das “diversas manifestações e divergência de opiniões”, pediu a suspensão temporária dos trabalhos sobre o livro, para “melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”.

* “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório

Título vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Romance Literário” em 2021, o livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, também já passou por censura. O caso aconteceu em março deste ano, na cidade de Santa Cruz do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul.

Na ocasião, a diretora da Escola Ernesto Alves, Janaina Venzon, gravou um vídeo acusando o livro de utilizar “palavras de baixo calão” e apresentar situações envolvendo práticas sexuais. Vale destacar, que a obra faz parte do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que avalia, seleciona e disponibiliza obras didáticas e literárias para escolas públicas.

Esta não foi a primeira vez que a obra de Tenório foi objeto de censura. Uma iniciativa parecida aconteceu em uma escola privada em Salvador.

“O avesso da pele” faz forte crítica ao racismo existente no Brasil. Além de ser bem recebido pela crítica especializada, o livro também teve os seus direitos vendidos para diversos países como Portugal, Itália, Inglaterra, Canadá, França, México, Eslováquia, Suécia, China, Bélgica, Estados Unidos. Mesmo sendo um sucesso, a obra acabou sendo retirada das bibliotecas de Santa Cruz do Sul.

* “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de Marçal Aquino

Em maio de 2023, a Universidade de Rio Verde (UnivRV), em Goiás, retirou o livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” de seu vestibular com a justificativa de que seria impróprio para os alunos. A obra de Marçal Aquino saiu da lista depois de uma campanha iniciada pelo deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que a classificou como “pornográfica”.

Publicado em 2005, o texto já foi adaptado para o teatro e para o cinema. A história apresentada é do envolvimento do fotógrafo Cauby com Lavínia, mulher de um pastor evangélico que a tirou das ruas e das drogas. A trama se passa no Pará e é marcada por personagens do sub-mundo, como garimpeiros, prostitutas, assassinos de aluguel, entre outros. E é nessa realidade que o personagem principal tenta sobreviver.

Desde que foi lançado, o livro já teve mais de 20 edições, aparece no currículo de diferentes cursinhos de pré-vestibular ao redor do Brasil, e nunca havia sido alvo de polêmicas. universidade informou em nota a exclusão do livro e admitiu a influência do vídeo postado pelo deputado.

* “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis

Um dos maiores clássicos da Língua Portuguesa, a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, já foi “censurada” pela Secretaria de Educação de Rondônia, em fevereiro de 2020.

Na época, foram recolhidos 43 títulos das escolas da rede pública de ensino estadual, por supostamente conterem “conteúdo inadequado às crianças e adolescentes”. Depois, a pasta retrocedeu.

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