Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de janeiro de 2025
O maior iceberg do mundo — uma parede de gelo com uma área de 4 mil quilômetros quadrados — está se movendo em direção a uma ilha remota perto da Antártida, lar de milhões de pinguins e focas.
A placa de gelo trilionária — chamada de megaberg — poderia colidir com a Ilha da Geórgia do Sul e ficar presa ou ser guiada em volta dela pelas correntes. Se ficar presa, poderia dificultar que os pais pinguins alimentassem seus filhotes, e alguns jovens poderiam até morrer de fome.
No entanto, de modo geral, os pesquisadores não estão muito preocupados com danos significativos por parte do iceberg, que tem o nome de A23a. O que está acontecendo é mais espetacular do que perigoso, disseram cientistas.
Também é um processo natural que está ocorrendo mais frequentemente por causa da mudança climática causada pelo homem, disse o físico oceanógrafo do British Antarctic Survey, Andrew Meijers, que examinou o iceberg de perto em dezembro de 2023, quando este passou perto do navio de pesquisa RRS Sir David Attenborough.
“O próprio iceberg é colossal e se estende de horizonte a horizonte”, disse Meijers sobre a massa de 40 metros de altura. “É uma imensa parede, um muro ao estilo Game of Thrones de gelo que se ergue acima do navio. Com algumas ondas quebrando contra ele e se você pegar um pouco de sol passando por ele, é realmente dramático.”
Para cada pedaço do iceberg acima da superfície da água, há dez vezes mais abaixo, disse Meijers.
Ritmo glacial
Não é exatamente uma ação de alta velocidade. O iceberg está se movendo a um ritmo glacial de um metro a cada três a sete segundos, muito mais lento do que uma milha por hora, disse Meijers.
Nas próximas duas a quatro semanas, o iceberg se aproximará da Geórgia do Sul onde a água fica rasa, então ele poderia se encaixar ali, disse Meijers. Ou poderia deslizar para o lado.
“Grandes icebergs colidem com os bancos ao redor da Geórgia do Sul mais ou menos todo ano — é uma espécie de rodovia para os principais icebergs”, escreveu o cientista de gelo da Universidade de Colorado (EUA), Ted Scambos.
“Esta rota de corrente oceânica é conhecida desde a época de Shackleton”, disse ele, referindo-se a Sir Ernest Henry Shackleton, que liderou expedições britânicas ao continente gelado. Shackleton fez a viagem para a ilha em apenas três semanas. “Normalmente, os icebergs levam um pouco mais de tempo (ele tinha velas)”, disse o pesquisador.
Eventualmente, este grande iceberg se dividirá em menores e derreterá, como icebergs fazem, de acordo com Meijers.
Pinguins
Em tamanho completo, não representa muita ameaça para os pescadores da área, porque eles podem vê-lo. A maior preocupação são os pinguins, que estão em seu ciclo de reprodução de verão, disse Meijers.
“A Geórgia do Sul é uma ilha ecologicamente rica de forma incrível. É um terreno de reprodução para um grande número de pinguins, milhões de pinguins e focas”, disse Meijers. “Há muitos filhotes e todos ainda dependem de seus pais.”
Os pais saem bastante longe na água e exploram a região. Icebergs podem bloquear caminhos para sua comida, fazendo os adultos nadarem mais distante, queimando mais energia, trazendo menos para os bebês. Esse comportamento “infelizmente pode aumentar dramaticamente as taxas de mortalidade. E isso aconteceu no passado”, disse Meijers.
Isso é ruim para aquela colônia, mas não chega a ser um problema para as populações de pinguins em geral, disse Scambos.
“Todo o ecossistema no Oceano Austral é muito resiliente a esses eventos,” segundo ele. “Evoluiu com esses icebergs sendo um fator por centenas de milhares de anos.”
Este iceberg se desprendeu pela primeira vez em 1986, mas ficou preso em uma área lotada de gelo marinho por décadas até poucos anos atrás, disse Meijers.
A produção de icebergs é normal, mas eles estão acontecendo com mais frequência à medida que o clima aquece e mais água doce flui para o oceano. (Estadão Conteúdo)