Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025

Marcas famosas arranhadas em 2024. Não descuide da sua em 2025

Certamente, esteve no menu de virada do ano para grande parte dos gestores de marca uma retrospectiva do ano que se encerrava e planos para o novo ano. Nas boas práticas gastronômicas, toda receita contempla o fazer e o não fazer.

Começando pelo não fazer, cito dois casos negativos. O primeiro, da Apple, me impactou. Sou cliente e promotor da marca há décadas. A campanha Crush deu um tiro em nós outros. O comercial mostrava produtos ligados à criatividade humana esmagados por uma máquina, só sobrava o novo iPad.

Logo, a campanha reverberou negativamente, já que a mensagem passava a ideia de que a tecnologia destrói a criatividade humana. Cancelaram, e o vice-presidente de marketing disse: “Perdemos a mão com esse vídeo e pedimos desculpas”. A concorrente recebeu um prato cheio de erros e usou sua pitada de sorte. A Samsung criou uma peça, Uncrush. O filme com um compressor, mas com uma sacada criativa robusta: uma mulher caminha entre os restos destruídos, pega uma guitarra parcialmente esmagada e começa a tocar, lendo a partitura em um tablet Samsung, e o filme encerra com a frase: “A criatividade não pode ser esmagada”.

Foi um sucesso, a Samsung bombou nas redes sociais, conquistando mais de 2,5 milhões de visualizações em um dia. Apple arranha sua imagem e serve uma ceia grátis para a concorrente.

O segundo foi com a Mattel, uma das maiores fabricantes de bonecas do mundo, que lançou em outubro de 2024 bonecas do filme Wicked e foi um sucesso, até que os consumidores perceberam um erro gravíssimo. Na embalagem do produto, em vez de direcionar os compradores para o site do brinquedo, foi colocado o endereço de um semelhante que conduz a uma página de filmes pornográficos.

Em nota, o CEO disse apenas que “lamentava profundamente”. Ao ver essa declaração, fica claro que o executivo não leu Os Axiomas de Marketing, do professor Madia de Souza, onde ele revisita um conceito básico para todas as marcas. “O único valor definitivo do marketing é a imagem que uma empresa, produto, marca for capaz de plantar no território onde se travam todas as batalhas do mundo dos negócios: a cabeça das pessoas”.

Além desses, lembro que o tribunal das relações das marcas com consumidores mudou radicalmente na última década graças ao avanço da tecnologia. Isso está materializado em um estudo recente da Nexus. Nele, ficou claro o crescimento do empoderamento dos consumidores. Um dos indicadores comprova que os clientes estão cada vez mais envolvidos no comportamento das marcas para definir suas preferências. Na amostra, 59% dos entrevistados afirmaram que deixaram de consumir produtos/serviços em um ato de retaliação por motivos que passam da falta de qualidade à propaganda enganosa.

Em 2025, anunciantes e gestores de marketing devem lembrar que, assim como na gastronomia, não basta ter a receita perfeita. É preciso combinar talento, dedicação e visão estratégica para criar experiências únicas e evitar erros com os consumidores. Olhar para o passado e exemplos negativos é essencial para entender os ingredientes que funcionaram e ajustá-los ao futuro, garantindo relevância e fidelidade. Afinal, a marca que sabe ouvir e evoluir, conquista e mantém seus clientes à mesa.

Gil Kurtz, vice-presidente do Fórum Latino-Americano de Defesa do Consumidor

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