Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Medicamento Ozempic reduz risco de Alzheimer e adicção

Enquanto análogos do GLP-1, classe de medicamentos como o Ozempic, são usados por cada vez mais gente e novos estudos surgem apontando efeitos positivos além do controle da diabete tipo 2 e da obesidade, pesquisadores da Washington University School of Medicine in St. Louise do Veterans Affairs St. Louis HealthCareSystem decidiram fazer uma pesquisa ampla, resultando no mais extenso atlas sobre benefícios e riscos dessas injeções.

“Percebemos que ninguém havia feito uma análise sistemática examinando todos os possíveis resultados do GLP-1, sem deixar pedra sobre pedra. É como descobrir uma nova terra, a primeira coisa que você quer fazer é mapeá-la”, explica o autor sênior do estudo, Ziyad Al-Aly, epidemiologista e nefrologista que trata pacientes no John J. Cochran Veter ans Hospital, afiliado à Wash U Medicine.

Usando o banco de dados dos veteranos dos EUA, eles compararam pacientes com diabete que passaram a usar análogos do GLP-1 e aqueles que só mantiveram o tratamento clássico com três outras classes de medicamentos para controle da glicemia – comercializados com nomes como Jardiance, Glipizide e Januvia – para um conjunto abrangente de 175 desfechos de saúde. As análises incluíram mais de 2 milhões de pacientes.

Além de proteção contra os eventos adversos cardiovasculares importantes (Mace, na sigla em inglês), já divulgada, o estudo trouxe algumas surpresas, como impactos positivos no cérebro, com reduções no risco de Alzheimer e de adicções. Por outro lado, foram detectados reflexos negativos no pâncreas enas articulações ainda não vistos. Ao todo, a adição de análogos do GLP-1 foi associada a uma redução no risco de 42 desfechos e um aumento no risco de 19 – nenhuma associação estatisticamente significativa foi encontrada para os outros 114 (65,14%) observados. Os resultados foram publicados na respeitada revista científica Nature Medicine.

“Fica evidente que esses medicamentos atuam em múltiplos órgãos e sistemas”, diz AlAly. “Eles realmente funcionam. Mas também é importante observar que não são isentos de efeitos colaterais.”

Ao ser feita a comparação com outros medicamentos, a ideia era permitir que médicos e pacientes tivessem mais informações para escolher a melhor opção de tratamento. “A decisão deverá ser personalizada com base no perfil de risco, nas preferências, no perfil de comorbidades e na condição de saúde do paciente.”

Estudo valioso

Os múltiplos efeitos de análogos do GLP-1 – moléculas que imitam o hormônio GLP-1, que deveria ser naturalmente liberado quando comemos, desencadeando a liberação de insulina – não são de todo inesperados.

“O pleiotropismo (capacidade de um medicamento de produzir múltiplos efeitos em diferentes órgãos ou sistemas, além de seu efeito primário) não tem nada de fantástico”, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, pesquisador principal do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que não se envolveu no estudo. “Qualquer hormônio ou seu análogo não atua em um único local. Se fosse o caso, não seria nem hormônio”, explica.

Demência

O surpreendente foi a dimensão do efeito dos análogos do GLP-1 no sistema nervoso central. O estudo apontou redução do risco de demências, incluindo o Alzheimer, e dous o problemático de substâncias (adicção), como álcool e opio ides. Anova pesquisa também indicou diminuição dorisco de ideação suicida, contrariando um episódio do início do ano passado.

AlAly confirma que a maior preocupação dos pesquisadores está relacionada ao aumento do risco de pancreatite aguda (uma inflamação do pâncreas). “A pancreatite aguda é uma condição grave que pode levar a hospitalizações e, em alguns casos, ser fatal. Embora seja um efeito colateral raro, ele está presente e pode ser letal em algumas situações, tornandose uma preocupação séria.”

Muitos dos efeitos colaterais encontrados no novo estudo, como pancreatite e complicações agudas de pedras nos rins, não aparecem na bula dos análogos do GLP-1. Com as descobertas da pesquisa, ele avalia que órgãos reguladores como a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a EMA deveriam exigir mais dados de segurança por parte das farmacêuticas.

 

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