Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de janeiro de 2025
A caixa de mensagens do influenciador mineiro Junior Pena, popular entre a comunidade de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, tem se enchido na última semana com relatos de famílias vivendo assustadas no país.
São pessoas que mudaram a rotina, passaram a evitar sair de casa e até cogitam voltar o mais rápido possível ao Brasil diante das notícias do cerco do presidente Donald Trump a imigrantes sem documentos, conta Pena, que tem mais de 1 milhão de seguidores no TikTok e vive nos EUA há 15 anos.
O efeito das promessas de endurecimento das políticas de deportação e anúncios de blitz para capturar imigrantes irregulares também já pode ser sentido em ambientes frequentados pela comunidade brasileira, como mercados e igrejas evangélicas, segundo relatos ouvidos pela BBC News Brasil.
“Os cultos estão bem mais vazios, as pessoas estão com medo até de ir para a Igreja”, diz Fernanda*, estudante brasileira que uma das cidades americanas que mais concentram brasileiros.
Desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, Trump anunciou uma série de ordens executivas relacionadas à imigração, abrindo caminho para um esforço generalizado de repressão a migrantes sem documentos nos EUA.
Em mais de 21 ações, Trump tomou medidas para reformular partes do sistema de imigração dos EUA, incluindo como os migrantes são processados e deportados do país.
Entre essas novas regras, está a liberação da detenção de imigrantes em igrejas, escolas e clínicas. Além disso, agentes como os policiais do Departamento Antidrogas do país ou os Marshals, como são conhecidos alguns agentes federais de busca a foragidos, receberam ordens para também fazerem a detenção de imigrantes irregulares.
Em declarações à imprensa, membros do governo americano e a Casa Branca têm dito que o foco das operações são imigrantes “criminosos” que ameaçam “a segurança pública e a segurança nacional”.
Mas são os relatos sobre pessoas que não cometeram crimes nos EUA, mas foram detidas mesmo assim, que têm assustado a comunidade brasileira.
Na quinta-feira, por exemplo, o prefeito de Newark (Nova Jersey), Ras Baraka, um democrata, afirmou em um comunicado que agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) “invadiram um estabelecimento local… detendo residentes sem documentos, bem como cidadãos, sem apresentar um mandado.”
A CBS News, parceira da BBC nos EUA, reportou a história de uma mulher venezuelana detida em uma operação em Miami. Ela estava no meio do processo para conseguir a cidadania, com data marcada para audiência, disse o seu marido.
Nessa terça-feira (28), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse em sua primeira coletiva de imprensa do novo governo que qualquer pessoa que tenha migrado irregularmente é um criminoso para os EUA. “Se eles violaram as leis da nossa nação, eles são criminosos”, disse ela.
Leavitt acrescentou que Trump quer que todos os imigrantes ilegais sejam removidos — desde estupradores e assassinos até migrantes sem documentos e sem registros criminais.
Medo constante
Os brasileiros entrevistados pela BBC News Brasil repetiram com frequência que o governo Trump de fato está em busca de imigrantes “criminosos”, e não dos “trabalhadores”, como foi dito ao longo da campanha do republicano.
Mas as mensagens que chegam pelo WhatsApp têm alertado sobre o chamado “dano colateral”, um termo usado por autoridades americanas para designar imigrantes sem documentos, mas sem ficha criminal, que acabam sendo levados junto aos alvos primários dos agentes atualmente, aqueles com crimes pregressos.
“As pessoas estão bem assustadas e com muito medo. E a gente tenta cuidar, ver com quem está trabalhando, com quem está andando, porque se estiver próximo a alguém que tem problema, vai acabar sendo um dano colateral, né?!”, diz Dinorah*, moradora da Carolina do Norte que entrou no país com um visto de turismo e nunca mais partiu.
Terror psicológico
O influenciador Junior Pena acredita que essa primeira semana de Trump tem sido dias de “terror psicológico” para a comunidade de imigrantes brasileiros.
Outros brasileiros relatam que os grupos de WhatsApp estão fervilhando com vídeos de supostas blitzes policiais para pegar imigrantes — o que muitas vezes não se confirma.
O nível de tensão das pessoas aumentou após virem à tona notícias sobre maus tratos contra brasileiros no voo com deportados no último sábado (25/1).
Uma brasileira em Massachusetts escreveu uma mensagem à BBC News Brasil dizendo que está “por um triz de pegar meus filhos e ir embora”.
“Ninguém quer passar por aquilo, ficar acorrentando, sofrer no calor, ainda mais com filhos pequenos”, opina Pena.