Terça-feira, 22 de outubro de 2024

Mês do Gaúcho e a Realidade das Enchentes

Celebramos neste mês de setembro, no ultimo dia 20, o Dia do Gaúcho, uma data que evoca orgulho, tradição e resiliência. No entanto, é impossível ignorar a dura realidade que se apresenta em nosso Estado, mais de 4 meses após as enchentes que devastaram 478 cidades do Rio Grande do Sul. A situação continua caótica, e a dor do povo gaúcho clama por atenção.

Como relator dos processos de repasse de recursos federais para a Defesa Civil e, gaúcho, visitei diversas cidades afetadas pela tragédia e não pude deixar de sentir um profundo constrangimento diante da devastação. Apesar da queda no número de pessoas desalojadas, tive a informação que ainda há cerca de 2,3 mil gaúchos sem um lar, com 26 cidades mantendo abrigos ativos.

Enquanto em maio mais de 78 mil pessoas se encontravam em abrigos, hoje, 2 mil ainda dividem espaços precários, enfrentando uma burocracia cruel que dificulta inclusive o acesso aos auxílios governamentais. As marcas da tragédia ainda são visíveis. As paredes das casas, úmidas e frias, contam histórias de sofrimento e perda. Em Canoas, o odor das enchentes ainda paira no ar, e as infiltrações no teto ameaçam desabar. As pilhas de lixo, com mais de seis metros de altura, são um triste testemunho da devastação. E em Estrela, no Vale do Taquari, a cidade ainda se recupera do impacto de ter 75% de seu território submerso.

O Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, permanece fechado, isolando o Estado e gerando um prejuízo estimado de R$ 49 milhões por dia. Segundo informações que obtive, a perda patrimonial do Rio Grande do Sul soma R$ 10 bilhões, e o impacto no PIB é de R$ 40 bilhões. Para 378 mil alunos, as enchentes significaram interrupções e incertezas em seu futuro.

Neste mês do Gaúcho, somos chamados a refletir: a resiliência de nosso povo deve ser acompanhada por ações efetivas e urgentes. Não podemos permitir que a burocracia e a falta de recursos continuem a silenciar as vozes daqueles que precisam de ajuda. Que este dia, que deveria ser de celebração, nos lembre da necessidade de solidariedade e do compromisso de todos para a reconstrução de nossa terra. É hora de agir e garantir que a história do Rio Grande do Sul não seja apenas marcada pela tragédia, mas também pela força inabalável de um povo que se levanta e se une em busca de dias melhores.

(Augusto Nardes é ministro do Tribunal de Contas da União)

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