Quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Mesmo com vulcões, frio e custo de vida alto, Islândia atrai brasileiros

Um salário tentador foi o que motivou o youtuber Junior Guimarães a se mudar com a família para a Islândia, país europeu famoso pelas paisagens vulcânicas, gêiseres e auroras boreais, com 370 mil habitantes, o que corresponde a 3,2% da população da cidade de São Paulo. Cerca de 240 brasileiros decidiram percorrer mais de 9 mil quilômetros para viver na ilha isolada no Mar do Norte, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores.

O fenômeno de imigração é algo novo no território. No último ano, o país nórdico ultrapassou a marca histórica de 60 mil estrangeiros. Destes, pessoas nascidas na Polônia (34,2%) representam o maior contingente, seguido por imigrantes da Lituânia (5,6%) e da Romênia (4,1%).

Mesmo com o risco de vulcões, o tempo frio e o alto custo de vida, os imigrantes são atraídos pelos altos salários. Não há um salário mínimo obrigatório. O valor é negociado pelos sindicatos, mas pelo que os brasileiros disseram dá para conseguir no mínimo de R$ 15 mil a R$ 17 mil brutos por mês. Segundo o portal Hagstofa Íslands, a média salarial da Islândia ficou em torno de 4.250 euros (o equivalente a R$ 22,7 mil) em 2021. O imposto é de cerca de 40%, dependendo do cargo.

A oportunidade de morar na Islândia veio com o convite de um primo da sua esposa, Mirelle, que havia conseguido trabalho temporário em um hotel. Ao saber o salário, não pensaram duas vezes.

À primeira vista, a rotina de trabalho não parece tão diferente da do Brasil. A jornada é de 10h às 18h. Mas, para além da barreira do idioma, há um detalhe curioso: “Saio de noite e volto de noite. Nesta época do ano, são 24 horas de noite”, diz rindo.

“Muitas vezes a estrada está fechada por causa da neve. Já aconteceu de não poder trabalhar ou ter que vir mais cedo porque havia previsão de vento ou de neve mais forte.”

Morando há nove anos na Islândia, a empresária Anne Litla saiu de João Pessoa (PB), ao lado do marido islandês, em busca de um sistema de ensino adequado para o filho de 6 anos com TDAH.

Grávida de 8 meses, a adaptação cultural não foi fácil. Anne já tinha visitado o país algumas vezes, mas a mudança foi um choque tanto para ela quanto para a família do seu companheiro.

A empresária lembra das diferenças culturais, como a estranheza dos islandeses ao ver brincos em sua filha recém-nascida, ou a prática de deixar bebês dormindo ao ar livre no meio do frio.

Igualdade salarial 

Outro aspecto que surpreendeu a brasileira foi a igualdade salarial no país. Não importa se a pessoa trabalha como caixa de supermercado ou em uma loja, os salários são parecidos e só mudam um pouco com carreiras diferentes, como na área de TI.

Conforme a pessoa avança na carreira e o salário aumenta, também passa a pagar mais impostos. Assim, a disparidade salarial não é tão evidente e não é comum ter um tratamento diferenciado das pessoas com base em suas profissões.

A ilha é considerada a nação com a melhor distribuição de renda em um lista de 44 países, conforme levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

“Ao chegar à Islândia pela primeira vez, é estranho não conseguir distinguir quem tem dinheiro de quem não tem. A diferença não é muito evidente, porque todo mundo vive de forma semelhante.”

Ela diz que a média salarial lá é de cerca de 2.800 coroas islandesas por hora, o que dá 18,6 euros por hora (R$ 99). Considerando uma jornada diária de 8h, com 22 dias de trabalho por mês, o valor mínimo chega a R$ 17 mil brutos.

Imigrantes

A maioria dos contratos de imigrantes é temporária. O de Junior Guimarães é indeterminado. Ele recebe por hora trabalhada.

Durante o verão, costuma ter uma jornada de 9 horas por dia e faz hora extra. Nesse período, a renda é um pouco maior. Ainda assim, não é possível cravar o valor exato. “Não tem um mês fixo. Às vezes, também pedimos folgas para fazer algumas coisas”, explica.

Trabalhar Fora

O quesito financeiro é a principal razão para permanecerem no país europeu. Porém, algumas características devem ser levadas em consideração, avalia o brasileiro.

“Tem gente que gosta de uma vida mais calma, não se importa com ausência do sol. Algumas pessoas sentem muito isso. Mas aqui se ganha muito bem, então é mais fácil juntar dinheiro para poder ir para um outro lugar”, afirma.

Além do salário vantajoso, a empresária Anne Litla comenta que há uma abordagem mais flexível em relação ao trabalho, com a valorização do tempo de descanso e da qualidade de vida.

“Os islandeses não se sobrecarregam de trabalho. Durante o dia, eles têm várias pausas para tomar café, criando um ambiente muito mais relaxado. Eles não querem se desgastar com o trabalho.”

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