Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 2 de janeiro de 2022
Nas eleições presidenciais de 1989 o então governador do Rio, Leonel Brizola, candidato à presidência, escolheu a Globo como inimiga e símbolo de concentração de poder no Brasil, de tal sorte que era preciso acabar com o “monopólio”.
Foi uma péssima ideia. Com tal declaração de guerra, a Globo direcionou todo o seu arsenal, todo o seu poder de fogo, para desabonar o político do PDT, expondo-lhe erros e defeitos que ele de fato tinha, e outros que foram devidamente inflados. Se a ideia de Brizola era acabar com o “monopólio” da Globo, a Globo (Roberto Marinho) considerou-se no direito de reagir à altura – guerra é guerra.
Brizola só acumulou perdas depois. Não chegou ao segundo turno e nunca mais venceu uma eleição. Foi, depois, candidato a vice de Lula, e ambos foram derrotados no primeiro turno por FHC. Terminou perdendo melancolicamente uma eleição para o senado pelo Rio de Janeiro, que era até então o seu reduto imbatível.
O caudilho sucumbiu por uma interminável série de reportagens da Globo, mostrando um Rio caótico, ingovernável, centro do poder do crime organizado, do tráfico, da violência urbana – um inferno gerenciado por Brizola. A Globo foi tão longe no seu combate ao brizolismo que ajudou a forjar a imagem do caos fluminense, que perdura até hoje.
Claro, as coisas não ficaram assim. A gana de Brizola também rendeu frutos – a Globo manteve poder e prestígio, mas foi também se desgastando, diante da impressão de que, nos bastidores, a rede de televisão mandava no Brasil e fazia o que bem quisesse. Não era bem assim, nem nunca foi.
Tanto é que Lula, em 2002, se elegeu, depois se reelegeu, fez a sucessora, e a Globo, – se era o monstro devorador que diziam ser – se revelou impotente para evitar as vitórias do PT.
A Globo (e não somente ela) está em ampla fase de restruturação, diante das novas plataformas de mídia e da influência das redes sociais – cada vez menos dependente da vontade dos seus donos. A área jornalística, a criação cênica, a programação de entretenimento, tudo está agora (mais do que nunca) nas mãos de profissionais das áreas respectivas. Não há mais espaço para um poderoso do dia alterar o rumo de uma notícia ou dar o tom do noticiário.
Essas mudanças não são desde logo percebidas nas cúpulas dos poderes. Estão presos ainda às velhas formulações – mais empenhados em encontrar mecanismos de controle da imprensa, do que em governar de forma mais aberta e transparente.
Nenhum governo – nenhum – faz autocrítica. Prefere bater boca com as redações de jornais e redes de tevê, alimentar manias de perseguição e teorias conspiratórias. Estão em combate frontal contra a imprensa, que quando é plural, como no Brasil, pode-se dizê-la imprensa livre.
O presidente Bolsonaro está levando a paranoia a situações extremas. Ele – e seus milhares de seguidores – batem na imprensa (e na Globo em particular) o tempo todo, mas não passa de um mecanismo de prevenção, para justificar previamente os seus malfeitos, as suas insânias, as suas vastas incompetências.
titoguarniere@outlook.com
Twitter: @TitoGuarnieree