Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 15 de março de 2023
O consumo abusivo de fast food, juntamente com outros hábitos não saudáveis, como a falta de exercício físico, está associado ao desenvolvimento de problemas de saúde, como a obesidade ou a diabetes tipo 2. Num país como o Brasil, onde, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), 25,9% da população adulta sofre de obesidade e mais de 60% (o que representa 96 milhões de pessoas) têm excesso de peso; e, na Europa, em que, de acordo com dados de 2021 da International Diabetes Federation, um em cada sete adultos (a segunda taxa mais elevada do continente) são afetados pela diabetes tipo 2, tais associações já foram mais do que alertadas por especialistas em saúde pública, médicos e divulgadores científicos.
Existe pouco conhecimento sobre a relação entre o consumo frequente de fast food e o desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica (também conhecida como esteatose hepática, ou Gordura no Fígado). É uma condição potencialmente fatal causada pelo acúmulo de gordura no fígado e que pode levar, em estágios mais avançados, à cirrose e ao câncer hepático. Em países como os Estados Unidos, já é a principal causa de transplante de fígado.
De acordo com os resultados de um estudo recente publicado na revista científica Clinical Gastroenterology and Hepatology, pessoas com obesidade ou diabetes que consomem 20% ou mais de suas calorias diárias em fast food têm níveis mais altos de gordura no fígado quando comparados com quem consome menos ou nenhuma quantidade de fast food. A população em geral também apresenta aumentos de gordura no fígado ao basear um quinto ou mais de sua dieta nesse tipo de alimento, embora o aumento seja moderado neste caso.
“Fígados saudáveis contêm per se uma pequena quantidade de gordura, que em via de regra representa menos de 5%. Sabemos que mesmo um aumento moderado desses níveis pode levar à doença hepática gordurosa não alcoólica. Ficamos especialmente surpresos com o aumento acentuado da gordura hepática em pessoas com obesidade ou diabetes”, explica a hepatologista Ani Kardashian, da University of Southern California.
“Isso provavelmente se deve ao fato de que essas condições de saúde causam uma maior suscetibilidade ao acúmulo de gordura no fígado”, acrescenta Kardashian, principal autora do estudo. A hepatologista considera que os achados são “particularmente alarmantes” em um contexto como o atual, em que o consumo de fast food aumentou consideravelmente nos últimos 50 anos, independentemente do nível socioeconômico.
Na Espanha, segundo Rocío Aller, especialista no sistema digestivo do Hospital Clínico de Valladolid, a Gordura no Fígado já é a principal causa de cirrose, superando inclusive o consumo de álcool.
“É uma questão de saúde pública de primeiro nível”, declara a especialista, embora ressalte que os resultados obtidos nos EUA não são diretamente transferíveis para a Espanha: “Lá é mais comum que as pessoas consumam fast food diariamente, enquanto na Espanha podemos encontrar frequências de dois a três vezes por semana”.
No entanto, ela acredita que estes dados devem ser levados em conta, já que é a população jovem e de maior vulnerabilidade socioeconômica que tende a ter um acesso mais frequente a este tipo de alimentos, devido ao baixo custo.
“Sempre encontramos doenças hepáticas em grupos populacionais mais jovens”, acrescenta Aller, que também é vice-secretária da Associação Espanhola de Estudos do Fígado (AEEH).
Para Giuseppe Russolillo, presidente da Academia Espanhola de Nutrição e Dietética, dada a situação atual, é esperado que casos de fígado gorduroso não alcoólico se repitam nos próximos anos.
“A população está cada vez mais sedentária, estamos comendo mais alimentos processados e ultraprocessados, o preço dos alimentos in natura e sazonais está ficando mais caro… Se nada mudar, estaremos caminhando para um aumento significativo na incidência de patologias como a obesidade, diabetes tipo 2 ou fígado gorduroso”, afirma o nutricionista.
Russolillo pontua que, sim, o ato de consumir este tipo de alimento está associado ao aparecimento de sobrepeso e obesidade e, portanto, de esteatose hepática; mas que nem todas as pessoas com sobrepeso, obesidade ou fígado gorduroso têm esses problemas por comer fast food, já que, no final, se tratam de doenças multifatoriais.