Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de março de 2022
Não apenas um dos artistas mais influentes do século passado, Andy Warhol (1928-1987), junto com sua inconfundível persona pública de peruca platinada, veio a se tornar um daqueles personagens onipresentes na cultura popular. Tal como um Forrest Gump, ele parece figurar nos principais eventos de seu tempo, em filmes, livros, imagens de arquivo etc.
Já foi retratado no cinema uma dúzia de vezes – e está para ganhar uma nova cinebiografia estrelada por Jared Leto. Quase sempre, entretanto, Warhol é mostrado como uma figura pedante, afetada, que vive numa bolha de bajuladores e gente fútil, superficial. É um mito que “Diários de Andy Warhol” tenta desconstruir.
É claro que Warhol ajudou a moldar essa imagem infame, sobretudo nos próprios diários, onde despeja fofocas e veneno sobre outras celebridades. Mas havia também o artista sério, comprometido com o trabalho e dono de um refinado senso de autoironia. Ele se revela nesta minissérie da Netflix de seis episódios, portanto, em depoimentos perfeitamente articulados, que contrariam toda ideia do artista como um sujeito hiperexcêntrico, meio fora de órbita.
Produzida por Ryan Murphy (“Feud”, “American Crime Story”), “Diários de Andy Warhol” reserva o primeiro episódio para resumir a ascensão de Warhol, contando como o biografado, sendo gay e albino, vindo de uma família humilde de imigrantes tchecos, deixou Pittsburgh com apenas US$ 50 no bolso para se estabelecer como o rei da pop art em Nova York.
Logo percebemos que esta não será a mais abrangente das biografias, porém. Muito pouco se fala sobre os anos da Factory, o lendário estúdio de Andy nos anos 1960. Reduto da vanguarda nova-iorquina, o espaço servia de quartel-general a todos os seus projetos multimídia, que incluíam filmes experimentais e ensaios da banda Velvet Underground.
Mas a omissão é bem justificada. O roteiro baseia-se fundamentalmente nos diários que Andy ditou (por telefone) a sua secretária, Pat Hackett, a partir do outono de 1976. Deveria ser um meio de organizar sua contabilidade, mas o registro logo adquiriu um caráter mais íntimo, tornando-se um hábito até a morte do artista, em 1987. Um ano depois, Hackett condensou as 20 mil páginas transcritas num livro best-seller. Na série, é a voz do próprio Andy que se ouve na narração, gerada através de um programa de inteligência artificial.
O foco da minissérie fica na última década de vida do artista, portanto. Em 1976, Warhol já havia sofrido o atentado a tiros que quase o matou, promovido pela feminista radical Valerie Solanas – o episódio é dramatizado no filme “Um Tiro para Andy Warhol” (1996).
Com a saúde fragilizada, Warhol levava uma rotina um tanto mais reclusa ao lado do parceiro, Jed Johnson, ao menos até o Studio 54 abrir as portas. No embalo da disco e drogas estimulantes, o artista entra num período de sexo promíscuo e noites viradas. A história cruza o famigerado ex-michê Victor Hugo, amante do estilista Halston, antes de sua relação com Johnson entrar em colapso.
“Diários de Andy Warhol”, então, entra na década de 1980 com ênfase na vida
privada e afetiva de Andy, remontando seu relacionamento com Jean-Michel
Basquiat e com o executivo da Paramount Jon Gould.
Favorecido por um vasto acervo de imagens de arquivo, a série inclui depoimentos exclusivos de Debbie Harry, Rob Lowe, Jerry Hall, John Waters, Julian Schnabel e Mariel Hemingway, entre outros.