Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 25 de novembro de 2023
A nova moda no TikTok é compartilhar conversas alheias, gravadas às escondidas, e dizer sobre quem é a fofoca. Segundo os autores das postagens, a intenção é expor os fofoqueiros. Mas quem acaba mesmo exposto é a vítima, relata o The Guardian.
Marissa Meizz estava jantando com uma amiga quando seu telefone começou a vibrar. Era um zumbido excepcionalmente frenético, insensível ao botão de silêncio – uma enxurrada de mensagens de amigos, conhecidos e até mesmo uma tia “offline”, todos enviando links para um vídeo do TikTok intitulado “Envie isso para Marissa em Nova York”.
Ela congelou. Então começou a assistir. “Não gosto de meter o nariz onde não sou chamado”, disse Drew, o autor da postagem, sorrindo alegremente. “Mas se o seu nome é Marissa, preste atenção.” O que se seguiu foi uma conversa de um grupo de amigas, dizendo que haviam escolhido de propósito realizar uma festa de aniversário no dia em que a amiga Marissa estava fora da cidade – uma clara violação do código de amizade.
“Preciso te contar que o fim de semana em que você estava fora não era a única data possível para fazer a festa de aniversário delas”, disse Drew. “TikTok, me ajude a encontrar a Marissa.” Apesar do post não citar seu sobrenome, Marisa Meizz soube instantaneamente que a fofoca era sobre ela, e ficou arrasada.
Vídeos semelhantes – nos quais os criadores espionam estranhos e relatam as “fofocas” para suas audiências no TikTok, às vezes oferecendo características identificadoras de todos os envolvidos – tornaram-se uma tendência curiosa no aplicativo.
Dezenas desses vídeos estão surgindo sob várias hashtags, expondo a roupa suja de pais de bebês com famílias secretas, noivos que traíram enquanto estavam na despedida de solteiro e grupos de amigos reclamando pelas costas de alguém que está dormindo. As repercussões muitas vezes são humilhantes para a pessoa sobre a qual estão falando.
Depois que Meizz foi ao TikTok para responder a Drew, revelando que ele estava falando sobre ela, ela ficou conhecida como “aquela garota do vídeo”, disse ela. “As pessoas me reconheciam na rua e diziam, ‘Oh, você é a garota sem amigos.’”
Madrinhas de casamento
Em outro vídeo, Kelsey Kotzur, uma influenciadora de estilo de vida, ficou em maus lençóis por compartilhar fofocas que ouviu em um restaurante de Londres com seus 160.000 seguidores no TikTok. Em um clipe de três minutos, ela descreveu como eram os fofoqueiros, onde estavam almoçando e os detalhes de suas reclamações sobre sua suposta amiga – elas odiavam o casamento dela, o vestido dela e ter que participar do evento. A pior parte: eram suas madrinhas.
“Se eu fosse essa amiga e soubesse que essas garotas estavam falando de mim assim, me jogaria na frente de um carro”, disse Kotzur no clipe. E continuou: “Se você acabou de se casar e você tem duas amigas loiras com cabelos curtos, e uma amiga morena, não seja mais amiga delas.” O vídeo foi visto mais de 3 milhões de vezes.
Nesta era de vigilância de fofocas, os usuários do TikTok não apenas estão policiando a vida social daqueles ao seu redor, mas muitas vezes estão fazendo isso às custas da própria pessoa que supostamente estariam “salvando”.
O fofoqueiro tem sido dissecado por moralistas há séculos. A psicóloga Dra. Audrey Tang explica que a fofoca é uma forma poderosa de vinculação social. “A fofoca cria a sensação de pertencermos a um grupo”, diz ela. “E, se contribuímos para a conversa, recebemos uma dopamina. Estamos sendo aceitos, e a ocitocina, o hormônio natural que emite sentimentos amorosos, está sendo liberada.”
Para Andrea McDonnell, professora de comunicação no Providence College e autora de “A Gossip Politic”, os vídeos são uma manifestação do que a fofoca sempre fez, que é “policiar comportamentos ruins”. E isso pode ser positivo.
No final das contas, Meizz se diz feliz pelo fato de o vídeo ter sido postado. Quase três anos depois, ela tem novos amigos, uma comunidade vibrante e uma carreira na criação de conteúdo. Ela até fundou um grupo, “No More Lonely Friends” – uma mudança significativa de seus dias como a “garota sem amigos”.
Prática cruel
Mas nem sempre os resultados são favoráveis à vítima. Kellie Yancy, outra influenciadora do TikTok, publicou um vídeo bastante duvidoso. “Quem quer que seja Sarah, suas amigas lá estão falando sobre você”, disse Yancy em um clipe. “Ela disse que você se veste de maneira vulgar.” Yancy então virou o telefone para a mesa de brunch ao lado dela. “Espere aí, vou mostrar exatamente quem está falando sobre você, Sarah.”
Com os detalhes incluídos no vídeo de Yancy, havia informações suficientes para os usuários encontrarem Sarah na vida real e descobrir seus perfis de Sarah nas redes sociais. Em um vídeo ao vivo que já foi excluído do TikTok, Yancy disse que Sarah entrou em contato com ela, pedindo que ela retirasse o vídeo original, porque estava afetando seu trabalho. Sarah também disse a Yancy que estava desconfortável com o ódio online que estava sendo direcionado àqueles que estavam falando sobre ela.
“O que é um pouco perturbador sobre [essa tendência] é que o criador de conteúdo se orgulha e se alegra ao apresentar essas informações”, diz McDonnell, “e isso parece superar a tristeza sobre como isso afetaria diretamente a pessoa envolvida.”
A afirmação de Kotzur de que se jogaria em frente a um carro se fosse alvo da fofoca que estava amplificando mostra que ela estava “antecipando o dano dos comentários” – mas ela “continuou mesmo assim. E, como espectadores desse tipo de conteúdo, somos voyeurs desse dano imaginado”, diz McDonnell. “É bastante cruel”, acrescentou.