Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Novas informações sobre a monumental formação geológica localizada no fundo do oceano Atlântico, a pouco mais de mil quilômetros da costa das regiões Sul e Sudeste do Brasil

Um artigo recém-publicado na revista científica “Nature” traz novas informações sobre a monumental formação geológica localizada no fundo do oceano Atlântico, a pouco mais de mil quilômetros da costa das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Trata-se da Elevação do Rio Grande, um conjunto de montanhas submarinas que ocupa uma área equivalente ao território da Espanha e que há anos atrai a atenção de pesquisadores.

A novidade é que o estudo, realizado por acadêmicos brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), com a contribuição de um britânico do National Oceanographic Centre, de Southampton, e um acadêmico italiano, aponta que há cerca de 40 milhões de anos parte da formação foi uma grande ilha vulcânica de clima tropical.

O Brasil vem pleiteando na Organização das Nações Unidas a ampliação de suas fronteiras marítimas e um dos trechos que o país pretende novos limites reconhecidos passa justamente pela região da Elevação do Rio Grande. O coordenador do projeto e professor do Instituto Oceanográfico da USP, Luigi Jovane, disse que as conclusões têm condições de reforçar o pleito pelo redesenho das fronteiras marítimas brasileiras.

“Com certeza ajuda muito porque a gente está demonstrando que essa região era imersa, que recebia material do continente e que era diretamente relacionada com o continente até pouco tempo atrás”, disse, usando escala de tempo geológica. “Essa é uma informação muito importante e que poderá ser levada às Nações Unidas.”

Riquezas minerais

O interesse do Brasil de redesenhar suas fronteiras marítimas tem a ver com o potencial de riquezas minerais nas camadas subterrâneas do leito marinho.

A geóloga Izabel King Jeck, oficial da reserva da Marinha do Brasil, que tem atuado desde o início das discussões técnicas na ONU em favor do redesenho das fronteiras marítimas, também avalia que o estudo pode ajudar a atestar que a Elevação do Rio Grande é parte da plataforma continental.

“É mais uma contribuição para o pleito brasileiro”, diz King Jeck. Ela lembra que nas discussões na ONU um ponto crucial é a demonstração de afinidade de relevo entre o continente e formações do leito do mar. É o caso, por exemplo, da cadeia Vitória Trindade. No caso da Elevação do Rio Grande, esta ligação, afirma, é muito profunda e muito mais sutil. Mas além da afinidade de relevo, o que também é levado em conta são características geológicas que podem demonstrar afinidade entre o continente e formações offshore.

Ela lembra que há alguns anos um primeiro estudo do qual fizeram parte pesquisadores do serviço geológico brasileiro já havia apontado a existência de pedaços de rochas na Elevação do Rio Grande que são típicas do continente, e não de ilhas oceânicas.

Material coletado

A argila vermelha coletada num ponto mais ocidental da elevação foi um componente-chave do estudo cujos resultados renderam o artigo publicado em 4 de novembro na “Nature”.

Os estudos foram realizados com base em duas expedições ocorridas em fevereiro de 2018 com o navio oceanográfico de pesquisa da USP, o Alpha Crucis, e novembro do mesmo do ano com o navio britânico Discovery que levaram pesquisadores para a região em um navio britânico equipado com submersíveis autônomos e um veículo operado remotamente que registraram fotos e colheram amostra da elevação.

Um dos veículos colheu, com um braço robótico, uma amostra de argila vermelha de um ponto específico que estava sendo observado pelos cientistas. “Fizemos análises e apareceu que havia algumas associações de minerais e essas associações definem que era um paleossolo de alteração tropical dessas ilhas vulcânicas que existiam nessa região entre 40 milhões e 50 milhões de anos atrás”, disse Jovane. Paleossolos são solos antigos e que no passado remoto tiveram a função de receber vegetação, e hoje não mais.

O cientista afirma que argila vermelha coletada no topo da estrutura a mais menos 600 metros de profundidade é muito parecida com a terra vermelha que é facilmente encontrada, por exemplo, em regiões do interior de Minas Gerais e do interior de São Paulo. É o material rico em hematita, magnetita e alumínio, caulinita e que se forma sob florestas tropicais.

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