Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de janeiro de 2025
O Brasil ficou fora dos primeiros decretos assinados pelo presidente Donald Trump no início do seu segundo mandato. Mas medidas nas áreas de energia e meio ambiente – a saída do Acordo de Paris e o estímulo à exploração de petróleo –, além da ameaça de sobretaxar as importações de México e Canadá em 25% a partir de 1º de fevereiro podem ter impactos negativos sobre o Brasil, avaliam especialistas. Esses efeitos seriam sentidos tanto no comércio exterior como no câmbio.
“(Ter novas tarifas) Não está fora do radar de Trump. Ele está vendo como fazer isso sem acabar prejudicando os EUA”, afirmou Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre e professora da Uerj. “É pouco provável que possa fazer isso de forma generalizada, como vem dizendo, e acabar sendo mais seletivo. Mas pode usar (a ameaça de taxação) como poder de barganha com parceiros internacionais.”
O próprio Trump disse que ainda estuda tarifas de 10% para a China.
Roberto Dumas Damas, professor de Economia do Insper, também chama atenção para impactos indiretos no Brasil das medidas de Trump: “No primeiro mandato, Trump taxou a China, e o país asiático fez o mesmo com os EUA, além de ter passado a comprar mais do agro brasileiro. Mas ele aprendeu e colocou cotas (com limites a serem negociados em troca de alíquotas menores). Essa guerra comercial pode evoluir, e o Brasil tem de estar absolutamente atento”.
“O modelo se perdeu”
O argumento de Trump para sobretaxar México e Canadá é que estes países permitem a entrada, nos EUA, de drogas e imigrantes ilegais. Mas fontes disseram ao jornal The Wall Street Journal que o objetivo da ameaça de impor tarifas seria forçar uma renegociação antecipada do acordo comercial entre os três países. Isso está previsto para 2026.
O premier Justin Trudeau disse que o Canadá está pronto para retaliar. Poderia haver sobretaxas sobre uísque e suco de laranja dos EUA, além de um imposto de importação sobre o petróleo que o Canadá vende para as refinarias americanas, o que elevaria os preços da gasolina no país. Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que é preciso “manter a cabeça fria”.
Para Lia Valls, a adoção de novas tarifas já está sobre a mesa. Resta saber quais serão os alvos e alíquotas praticadas, o que deve ser definido com maior clareza a partir de abril, quando os estudos requisitados por Trump devem estar concluídos. Mesmo no caso de México e Canadá, ainda não há regras definidas.
O economista-chefe da gestora 5G Partners, Luis Otavio Leal, avalia que se Trump sobretaxar produtos de México e Canadá, além de outros países – ele já ameaçou taxar os Brics em 100% –, o dólar ficará mais forte globalmente. No Brasil, ele acredita que dólar flutuando entre R$ 6 e R$ 6,10 já é reflexo desse cenário:
“Acontece que dólar forte é inflacionário para os EUA, e Trump tentará compensar com algum tipo de redução de preço de energia, baixando preço dos combustíveis.”
Leal lembra que o dólar forte deixa os produtos americanos mais caros. Mas, na política de Trump de “tornar a América grande de novo”, é importante que o “Made in America” tenha atratividade.
“Então, ele faz tudo para trazer as fábricas de volta para os Estados Unidos e parar de importar produtos estrangeiros. Nesse cenário, um dólar forte não é bom, porque torna menos competitivos os produtos americanos. Ou seja, um pedaço que ele ganha com aumento de tarifa, perde com a valorização do dólar”, disse Leal.
Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, o modelo escolhido por Trump para gerir os EUA, de voltar a controlar o mundo, traz um risco: “O modelo em que os EUA são uma potência que manda no mundo se perdeu. O mundo mudou, a China cresceu, a Europa mudou. A globalização tornou mais eficiente a produção”.
(As informações são do jornal O Globo)