Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Novos remédios para obesidade reduzem até 25% do peso e são “eleitos avanço científico do ano”

“A obesidade encontra seu adversário”: é com esse título que a prestigiosa revista científica Science elegeu os análogos de GLP-1 como o “avanço de 2023”. A classe de medicamentos, à qual pertence o famoso Ozempic, teve início ainda nos anos 80 na busca por uma nova alternativa para diabetes. O destaque, porém, veio pela eficácia inédita para perda de peso, com números próximos aos da bariátrica. Agora, ainda que o elevado custo e o estigma que envolve a obesidade sejam desafios, especialistas consideram que, pela primeira, a doença de fato encontrou um oponente à sua altura.

“A obesidade é atualmente um dos maiores problemas de saúde no mundo e tem índices crescentes. No Brasil, a previsão é que, em 10 anos, atinja 40% da população. Só que todos os tratamentos haviam sido frustrantes, com resultados ruins e perfis perigosos. Agora estamos num momento em que pela primeira vez temos opções eficazes e que se traduzem em melhores desfechos de saúde”, diz Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e vice-presidente da Federação Mundial da Obesidade para América Latina (Flaso).

Médicos que trabalham com obesidade celebraram a escolha da Science. Pontuam que a revista não se restringe a temas médicos, o que sublinha a relevância da decisão. Segundo a publicação científica, os remédios estão “remodelando a medicina, a cultura popular e até mesmo os mercados de ações globais de maneiras ao mesmo tempo eletrizantes e desconcertantes”.

O primeiro ponto para o destaque é a eficácia. Enquanto fármacos antigos proporcionavam uma perda de 6% a 8% do peso, os estudos mais recentes com a semaglutida (do Ozempic e do Wegovy, ambos da Novo Nordisk) mostraram uma redução de 17,4%, após 68 semanas. Já a diminuição com a tirzepatida (do Mounjaro, da Eli Lilly) chegou a 25,3% após 88 semanas. Ambos os trabalhos foram publicados na JAMA.

“Eles também têm uma segurança maior que os antigos, com poucos efeitos colaterais que são manejáveis. Além disso, já há trabalhos mostrando que levam a benefícios para esteatose hepática, doença renal, para reduzir eventos cardiovasculares, melhorar qualidade de vida na insuficiência cardíaca. Então combinam potência para perda de peso, segurança bem estabelecida e benefícios adicionais para a saúde”, diz Rodrigo Moreira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e atual diretor do departamento de Diabetes da entidade.

Em agosto, um estudo com a semaglutida mostrou que o remédio melhorou os sintomas da insuficiência cardíaca, como melhor aptidão física e redução da fadiga e falta de ar. Três meses depois, outro trabalho constatou uma redução no risco de eventos cardiovasculares graves em 20% entre os pacientes.

Halpern diz que é a primeira vez que um remédio interfere nos problemas de saúde associados à obesidade. E o potencial dos remédios pode ser ainda maior, para diagnósticos que vão além do peso. A Science, por exemplo, destacou que a semaglutida está sendo estudada para quadros de dependência após relatos de usuários sobre terem parado de beber ou largado o cigarro.

Há ainda pesquisas sendo conduzidas para tratamento do Alzheimer, principal causa de demência, por estudos indicaram um papel na doença da resistência à insulina no cérebro. Segundo a plataforma Clinical Trials, dos EUA, resultados iniciais são esperados em 2025.

Funcionamento dos remédios

Como os remédios funcionam e quais estão disponíveis no Brasil? Os medicamentos são chamados de análogos de GLP-1 pois simulam um hormônio de mesmo nome no corpo. Há receptores dele em diferentes locais: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, motivo pelo qual os remédios foram desenvolvidos inicialmente para diabetes.

Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Com isso, a pessoa sente menos fome e, consequentemente, reduz as calorias ingeridas por dia e perde peso.

Os fármacos começaram a ser pesquisados ainda nos anos 80 pelo papel no controle dos níveis de açúcar no sangue. Mas, já nos anos 90, experimentos com camundongos indicavam o efeito surpreendente de inibir o apetite dos animais.

Mais tarde, os testes clínicos confirmaram o potencial de reduzir o peso, e a liraglutida, princípio ativo do Saxenda, da Novo Nordisk, foi o primeiro análogo do GLP-1 aprovado para tratar da obesidade, nos EUA, em 2014.

Desde então, novas moléculas, mais eficazes, foram desenvolvidas: a semaglutida, do Ozempic e do Wegovy, e a tirzepatida, do Mounjaro e do Zepbound. No Brasil, o único disponível é o Ozempic, que é oficialmente indicado para diabetes, embora seja utilizado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para perda de peso.

O Wegovy, que contém uma dose superior da semaglutida e indicação para obesidade em bula, foi aprovado neste ano, mas ainda não chegou ao país devido à alta demanda global. A expectativa é que comece a ser vendido em 2024.

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