Sábado, 18 de janeiro de 2025

O duplo efeito da decisão de Alexandre de Moraes de barrar viagem de Bolsonaro à posse de Trump

Nesta segunda-feira (20), Donald Trump volta ao comando da maior potência mundial. O ex-presidente Jair Bolsonaro gostaria de estar lá de corpo e alma. Mas seu desejo foi barrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O retorno de Trump à presidência dos Estados Unidos tem, após amargar a derrota na tentativa de reeleição, o condão de reacender as esperanças de boa parte da direita mundo afora, com o Brasil incluído. Entre o círculo próximo de Bolsonaro é difundida a crença de que Trump pode ser fonte de pressão para, quem sabe, o ex-presidente brasileiro ser liberado para retomar o direito de ter seu nome nas urnas na eleição de 2026.

O novo presidente dos EUA já deu inúmeros exemplos de simpatia a Bolsonaro. Posa como o tio rico do parente sul-americano em ideias. As manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendendo a candidatura de Kamala Harris, derrotada por Trump, completam o cenário e deixam claro para o republicano quem na política brasileira está do seu lado.

A festa da posse seria, portanto, uma oportunidade para Bolsonaro mostrar para todo mundo sua proximidade com o chefe do Poder Executivo norte-americano. Num cenário ideal, e certamente nos seus planos, Bolsonaro ia lá tirar uma selfie ao lado de Trump e fazer a imagem circular nas redes sociais. Uma fração de segundos de alguma fala do próprio presidente empossado dos EUA seriam, então, ainda melhor.

A cena possível não teria o poder de anular decisões judiciais no Brasil, mas teria um significado político grande. O líder da maior nação ocidental acalentando um ex-presidente mirado pela Justiça é algo que pode pesar na cabeça de magistrados na hora de um veredicto.

Por essas e outras, a decisão de Moraes tem um duplo significado. Primeiro, ao negar ao ex-presidente a devolução de seu passaporte e barrar a viagem aos Estados Unidos, o ministro deixa claro que Bolsonaro é investigado, indiciado e tem contas a prestar ao STF.

Por conta de decisão do mesmo magistrado, referendada por colegas da Corte, o político está com parte de seus direitos suspensos: não pode sair do País, não pode conversar com outros investigados e está impedido de frequentar quarteis. O motivo está na atuação de Bolsonaro para tentar dar um golpe de Estado em 2022.

O segundo efeito do despacho de Moraes é político. Frustra o plano da selfie Bolsonaro-Trump. E rouba do ex-presidente a oportunidade de tentar cacifar-se interna e externamente como um político perseguido e que desfruta de certa proximidade do novo presidente dos EUA. (Opinião/Francisco Leali/Estadão Conteúdo)

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