Sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O infarto em mulheres, até mesmo as jovens, tem aumentado

A medicina avançou muito nas últimas décadas no diagnóstico e no tratamento das doenças cardiovasculares. Mas isso não diminuiu as preocupações da diretora nacional de cardiologia da Rede D’Or, Olga Ferreira de Souza. Para ela, ainda falta conscientização e prevenção dos fatores de risco, responsáveis, por exemplo, pelos 50 milhões de brasileiros hipertensos.

Dia Mundial do Coração: novo estudo revela quantidade de passos diários para reduzir a pressão arterial
Jejum intermitente: como tirar o melhor proveito e evitar os riscos da dieta mais popular no Brasil
A cardiologista está em alerta pelo aumento do número de infartos em mulheres, inclusive entre mulheres jovens, o que já exigiu um posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Segundo Souza, a genética é determinante, mas é o estilo de vida que vai definir se o problema cardíaco chegará aos 40 ou aos 70 anos. Saiba mais sobre a saúde do coração na entrevista a seguir:

É possível cuidar do coração mesmo depois de certa idade e reverter estragos?

Sempre dá. O importante é começar. A gente consegue conter certos processos no organismo, como aterosclerose, obesidade, diabetes. Então, no momento que qualquer pessoa perceber que precisa mudar os seus hábitos de vida para evitar doenças futuras, é super benéfico. Algumas pessoas começam isso mais tardiamente. Então, já tem algum grau de doença. Em algumas situações, a gente consegue estabilizar e evitar a progressão. E aí, com isso, você evita um infarto, uma doença coronariana, uma arritmia, uma hipertensão. Então, sempre é tempo.

Qual é o momento ideal?

Hoje, a gente tem uma expectativa de vida muito mais alta. Então, o ideal é que a pessoa comece a cuidar o mais cedo possível. Quem tem história familiar de infarto, de hipertensão, de diabetes, de colesterol alto, deve, assim que possível, com 15, 18 anos, já medir o colesterol e verificar a sua pressão arterial. Tardiamente, seria quando já tem alguma doença instalada, e não uma questão de idade.

O que pesa mais, o estilo de vida ou a hereditariedade? É possível superar a genética?

A hereditariedade tem um fator primordial no desenvolvimento das doenças cardiovasculares. A genética é o fator principal. Mas se você tem uma carga genética, paterna ou materna, e desde cedo tem hábitos saudáveis, faz atividade física, controla o colesterol, está dentro do peso, se alimenta adequadamente, você consegue retardar e até evitar que aquele tipo de doença genética se manifeste precocemente. Então, é evitar que um paciente tenha um infarto aos 40 anos, ou, se for ter, será numa fase bem adulta, com 70, 80 anos. Você consegue mudar a história natural da pessoa com o estilo de vida.

Um infarto aos 40 é mais mortal do que aos 70 anos?

O infarto é grave em qualquer idade, seja no jovem, no adulto, no idoso, é um evento catastrófico, e a maioria das pessoas não consegue nem ter o primeiro atendimento médico, morre antes. Nós só tratamos metade das pessoas que chega com infarto. O restante acaba morrendo antes. Daí a nossa preocupação com o número cada vez crescente da mortalidade por doenças cardiovasculares. São mais de 1 .100 mortes por dia, cerca de 46 por hora, uma morte a cada 90 segundos. As doenças cardiovasculares causam o dobro de morte daquelas por câncer, todas as causas de acidentes e violências, três vezes as doenças respiratórias e as infecções. Então, realmente é preocupante, porque apesar de todos os avanços que a gente tem vivido na medicina, na cardiologia, no diagnóstico e no tratamento, a gente não é efetivo em medidas preventivas para reduzir as doenças cardiovasculares. Nós temos bons tratamentos, mas falta investir em prevenção.

O que a senhora recomendaria em termos de exames para uma pessoa saudável que nunca teve nenhum problema cardíaco, sem histórico familiar?

Não precisa fazer exames mirabolantes, dispendiosos. Basta uma consulta médica para avaliar a presença de fatores de risco através da medida da pressão arterial, o peso, a frequência cardíaca, dosar glicose e colesterol. Isso é importante. A gente sabe que a hipercolesterolemia (colesterol alto) pode acontecer em crianças, adolescentes, a hipertensão arterial também. Hoje a gente tem uma epidemia de obesidade, até por causa do sedentarismo e da alimentação inadequada com excesso de sal e ingesta calórica. Então, se você tem histórico familiar, se seu filho ou outra pessoa na sua casa está fora de peso, essa avaliação simples deve ser feita o mais precoce possível. Exames de imagem, tomografia, ressonância, só se o médico achar aconselhável ou se já identificou alguma doença.

Hoje, qual a sua maior preocupação em relação aos problemas cardiovasculares?

Para mim, hipertensão. A hipertensão arterial hoje no Brasil é extremamente prevalente. Dá para controlar com remédio, com estilo de vida, e, mais importante, com a redução do consumo de sal. Tem dados que nos preocupam bastante: a Organização Mundial de Saúde recomenda uma ingesta em torno de 5 gramas de sal por dia, 2 gramas de sódio. Para você ter ideia, a média do brasileiro é de 10 a 12 gramas de sal. E esse é um dos fatores principais para o desenvolvimento da hipertensão arterial. Não só o sal que a gente adiciona à mesa, ao alimento, tempera, mas o sal dos alimentos ultraprocessados, que é o dia a dia hoje das grandes cidades. A maioria dos alimentos ultraprocessados tem um alto teor de sódio. O macarrão instantâneo, que é uma coisa simples, tem 1,6 gramas de sódio. É muita coisa. Então, acho importante, ações do nosso governo, das nossas sociedades, em exigir a redução do teor de sódio nesses alimentos.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

Conheça os 13 efeitos colaterais do remédio Ozempic mais citados por usuários
Justiça condena Google a pagar indenização de 15 mil reais a mulher por exposição de imagem não autorizada
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play