Domingo, 02 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 1 de fevereiro de 2025
Há mais de uma década, alguns estudos sugeriram que os primeiros precursores de medicamentos como Ozempic e Mounjaro poderiam prevenir ou até reverter sinais da doença de Alzheimer em camundongos. Agora, à medida que a nova geração desses medicamentos ganha popularidade e cientistas descobrem que eles podem ter amplos benefícios para a saúde, as pesquisas estão se intensificando para investigar se os fármacos que revolucionaram o tratamento do diabetes e da obesidade também poderiam transformar o tratamento do Alzheimer.
As evidências iniciais parecem promissoras — mas ainda há muitas dúvidas e ressalvas.
“Acho que eles são definitivamente promissores”, afirma Karolina Skibicka, neurocientista e professora de fisiologia metabólica na Universidade Estadual da Pensilvânia. “Mas, com as evidências disponíveis no momento, não posso ir muito além.”
Pesquisas em roedores mostraram amplamente que esses tipos de medicamentos para diabetes e obesidade, que imitam hormônios metabólicos, podem melhorar vários dos principais sinais da doença de Alzheimer no cérebro, além de aprimorar a capacidade de aprendizado e memória dos animais. No entanto, há um longo histórico de medicamentos que trataram Alzheimer em camundongos, mas não tiveram os mesmos efeitos em humanos.
Até agora, existem poucos estudos analisando se esses medicamentos podem reduzir o risco de demência em pessoas.
Uma análise recente descobriu que, ao longo de três anos, pessoas que tomavam semaglutida (o composto presente no Ozempic e no Wegovy) tinham de 40% a 70% menos chance de receber um diagnóstico de Alzheimer em comparação com aquelas que usavam outros medicamentos para diabetes.
Um estudo publicado este mês, que revisou um banco de dados da Administração de Veteranos dos EUA, também descobriu que pessoas que tomavam esses medicamentos tinham menor probabilidade de desenvolver demência em comparação com aquelas que usavam outros tratamentos para diabetes. No entanto, o benefício foi mais modesto, com uma redução de risco em torno de 10%.
As descobertas parecem promissoras, mas, por serem estudos observacionais, “é muito difícil dizer” se os medicamentos estão diretamente causando esse benefício ou se essa redução do risco é apenas coincidência, afirma Ziyad Al-Aly, chefe de pesquisa e desenvolvimento do Sistema de Saúde da Administração de Veteranos de St. Louis e coautor do estudo.
Também há ensaios clínicos analisando se esses medicamentos podem tratar pessoas já diagnosticadas com demência. Resultados preliminares de um estudo com cerca de 200 pacientes foram apresentados em um encontro da Associação de Alzheimer recentemente. Eles mostraram que pacientes com Alzheimer leve que receberam um medicamento mais antigo e semelhante (liraglutida, vendida sob a marca Victoza) apresentaram um declínio mais lento na cognição e no volume cerebral em comparação com aqueles que receberam placebo.
Os benefícios foram modestos, e os pesquisadores não puderam afirmar se haveria uma mudança significativa na condição dos pacientes. No entanto, Paul Edison, professor de Neurociência no Imperial College London, no Reino Unido, e líder do ensaio, afirma ter ficado “animado” com os resultados.
Outros estudos que investigam se a semaglutida pode retardar a progressão do Alzheimer ainda estão em andamento.
Os pesquisadores ainda não sabem exatamente como medicamentos como Ozempic podem proteger contra doenças neurodegenerativas — na verdade, ainda estão tentando entender como esses medicamentos afetam o cérebro de maneira geral. Mas há algumas hipóteses:
Saúde metabólica
Diabetes e obesidade aumentam o risco de uma pessoa desenvolver demência, então é possível que os medicamentos reduzam esse risco ao melhorar a saúde metabólica.
Essas condições estão associadas a um aumento da inflamação no corpo, e muitos cientistas acreditam que reduzir essa inflamação pode ser um dos motivos pelos quais os medicamentos melhoram outras condições de saúde, incluindo doenças cardíacas e renais. O mesmo pode ocorrer no cérebro: o processo inflamatório pode matar células e contribuir para doenças neurodegenerativas, e esses medicamentos ajudariam a reduzi-la.
Há algumas evidências em estudos com animais de que os medicamentos podem suprimir a inflamação no cérebro, explica Skibicka. No entanto, ela ressalta que os cientistas ainda não conseguiram estabelecer uma ligação direta entre essa redução e a melhora nos sintomas do Alzheimer.
Além disso, os medicamentos podem reduzir a resistência à insulina, um dos principais fatores do diabetes. A insulina desempenha um papel importante na formação da memória, e a resistência a esse hormônio tem sido associada à doença de Alzheimer. Pesquisas em animais sugerem que esses medicamentos podem melhorar a sinalização da insulina no cérebro, ajudando a protegê-lo contra a neurodegeneração, explica Nigel Greig, pesquisador sênior dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), que estuda esses medicamentos para distúrbios neurodegenerativos.
Benefícios cerebrais
Os cientistas sabem que esses medicamentos atuam em certos receptores do cérebro, principalmente em áreas relacionadas à fome e ao metabolismo. No entanto, ainda não está claro se eles podem afetar de forma significativa regiões envolvidas no aprendizado e na memória.
Pesquisas indicam que um medicamento mais antigo e menos comum, a exenatida (vendida sob a marca Byetta), consegue alcançar partes mais profundas do cérebro, aponta Skibicka. Isso inclui o hipocampo, uma das primeiras regiões afetadas pelo Alzheimer.