Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 5 de fevereiro de 2025
Uma colheita maior de grãos é apontada pelo governo como uma das soluções para o preço alto dos alimentos. “Estou muito confiante de que a safra desse ano, por todos os relatos que eu tenho tido do pessoal do agro, vai ser uma safra muito forte. Isso também vai ajudar”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última terça-feira (4).
A colheita de grãos deverá ser 8,2% maior entre 2025 e 2026 do que no período anterior, projeta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso seria um novo recorde e inclui alimentos como feijão, arroz, milho e soja, usada na ração de animais.
Mas como uma safra maior pode influenciar no preço da comida?
Pesquisadores entendem que ela pode ter algum impacto, mas isso não será sentido de imediato. E alertam que outros fatores também pesam no preço dos alimentos.
“(Uma safra maior) É uma boa notícia, porque pode arrefecer um pouquinho o preço. Pode deixar um pouco mais barato o custo da produção de carne, dando um exemplo. A gente também tem o óleo de soja e outros produtos que derivam ali dos grãos que, mantendo tudo como está, podem ajudar”, diz Aniela Carrara, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
A pesquisadora alerta que o preço dos grãos é muito dependente do mercado externo e, portanto, do valor do dólar frente ao real.
A alta da moeda americana aumentou os custos de produção e elevou a exportação, diminuindo o volume de alimentos disponível no país. Isso porque, com o real desvalorizado, o mercado externo vai continuar mais atrativo para os produtores do que o interno.
Na última terça, além da previsão da safra, Haddad citou uma recente trajetória de queda do dólar como parte da expectativa do governo de que o preço dos alimentos diminua nos próximos meses. A moeda americana, no entanto, voltou a subir nessa quarta (5).
Outros fatores também impactam no prato feito. Um deles é o clima: o encarecimento dos alimentos em 2024 foi provocado pela seca histórica. Para este ano, a previsão é de um cenário menos catastrófico, o que contribuiu para a projeção da safra maior.
Também pesam o aumento da renda do brasileiro, que, por sua vez, eleva o consumo, e o ciclo produtivo de cada alimento. Saiba mais abaixo.
Impacto
Diferente do calendário tradicional, o ano agrícola segue o ciclo produtivo das principais culturas, como a soja, e, no Brasil, tem início em julho.
Deste modo, a safra em vigor (2024/25) já está com a colheita em andamento, o que significa que, dificilmente, a previsão de recorde não vai se concretizar, explica Sergio Vale, economista e professor do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA).
Mas isso não é novidade: a safra de grãos vem batendo recordes seguidos no Brasil nos últimos anos.
Em 2023/24, por exemplo, o crescimento foi de 19,6% na comparação ao ciclo anterior, segundo o índice de Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses números são explicados pelo ganho de produtividade, explica Carrara, do Cepea.
Mas a boa safra em 2025/26 deve demorar para se refletir nas gôndolas. Para Sergio Vale, do IBDA, o impacto começaria a ser sentido pelo consumidor apenas no segundo semestre.
“[A inflação vai acontecer], mas talvez ela seja menor do que a gente previa”, afirma André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre).
Para 2025/26, a Conab projeta alta para soja, milho, arroz e feijão, que terá, segundo a companhia, a segunda maior safra dos últimos 15 anos, perdendo apenas para a temporada 2013/14.
Mesmo com a alta na produção da soja, o preço da carne bovina seguirá pressionado pelo ciclo da pecuária: isso porque, depois de dois anos de muitos abates, a oferta de bois vai começar a diminuir no campo.
Trigo e café têm projeção de colheita menor em relação ao período anterior, segundo a Conab. Analistas disseram ao g1, em dezembro, que a bebida deverá continuar cara até 2026.
O plantio do café funciona em um sistema de bienalidade, ou seja, em um ano há uma produção maior e, no outro, menor. Mas, nos últimos 4 anos, essa regra foi quebrada e as safras são sempre menores, devido aos problemas climáticos, ao passo em que o consumo cresce.
Já os preços de alimentos considerados de ciclo curto, como o tomate, a batata e a cebola, não são influenciados pelo tamanho da safra de grãos. Para eles o clima, por exemplo, tem mais peso.