Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O rapto de Perséfone e as estações do ano

Hoje o verão se despediu e deu passagem ao outono. A natureza se renova. Ganha colorido diferente. Frutos se oferecem por todos os lados. As pessoas escolhem roupas mais quentinhas. É a estação do ano cuja origem a mitologia grega relaciona ao rapto de Perséfone.

Foi assim

Perséfone encantava a todos por sua alegria e beleza. Era filha de Zeus, o deus dos deuses, e de Deméter, a deusa da agricultura. Um dia, ela veio à Terra dar uma voltinha. Hades, o senhor do mundo subterrâneo, a viu. Apaixonou-se na hora. Então, sem mais nem menos, o chão se abriu e engoliu a garota. Antes de desaparecer, ela soltou um grito desesperado. A mãe ouviu.

Deméter procurou a filha durante nove dias e nove noites. Não a encontrou. Inconformada, consultou Hélio, o sol, que tudo vê e nada esconde. Ele sentiu pena da mãe. Falou-lhe do rapto. Ela se indignou. Disse que não voltaria ao Olimpo sem a filha.

Acordo

A deusa da agricultura deixou de cumprir os deveres. Não alimentava a Terra. Faltou comida. Os homens passaram fome. Hermes, mensageiro de Zeus, prometeu trazer Perséfone de volta. Com uma condição: que ela não tivesse provado o alimento dos mortos. A moça retornou. Mas ficou pouco tempo. Ela havia comido três sementes de romã. Hades a levou de volta.

Zeus, então, arranjou uma saída. Todos os anos, Perséfone fica com a mãe durante nove meses. A Terra festeja com a primavera, o verão e o outono. Nos outros três, fica com o marido. Nesse período, a Terra se cobre de gelo. Os grãos não crescem. É o inverno.

Eterno movimento

Tudo muda. Água parada apodrece. Em movimento, mantém-se fresca e renovada. A natureza não fica atrás. Vale lembrar o suceder dos dias e das noites, das estações do ano, das fases da lua. O ciclo da vida humana confirma o vaivém. Nascemos, crescemos, morremos.

Nossa vida do dia a dia joga no time dos mutantes. Trocamos de emprego, de amores, de roteiros. Jogadores vestem e despem camisas de clubes diferentes. E a língua? Instrumento de comunicação das pessoas, varia de acordo com o avanço do tempo e as circunstâncias dos falantes. Concordâncias, regências, colocação, grafias trocam o passo segundo a música. Os significados servem de exemplo. Quando vieram ao mundo, vocábulos diziam uma coisa. Agora dizem outra. Quer ver?

Formidável

Quando nasceu, há mil anos, formidável era latina. Queria dizer assustador. Com o tempo, a arteira pulou a cerca. Adotou outras nacionalidades e outro significado. Nesta terra descoberta por Cabral, ganhou a acepção de maravilhoso, espetacular.

Ginástica

Pra fazer bonito, a moçada invade academias. Tênis adequado e roupas charmosas fazem parte do programa. Mas lá atrás, quando ginástica pintou no pedaço, calçados e vestimentas eram dispensáveis. Por quê? Na Grécia, berço do vocábulo, gymnos significava nu. Gimnazo (ginásio), treinar peladão.

Medíocre

Ser chamado de medíocre? Ops! É ofensa. Ordinário não fica atrás. Compra briga. O agredido reage. Bate boca e parte pra cima do atrevido. Mas, se parar e pensar, mudará de atitude. A razão: na origem, medíocre é mediano, o que está na média. Ordinário, o que está na ordem. Daí se dizer lei ordinária. Trata-se de lei como a maioria das leis — sem nada de extraordinário.

Senador

Ora vejam! Senex, senador em latim, quer dizer velho. Daí senil, senectude, senilidade. Quem chegava à velhice lúcido entrava no clube dos sábios. Respeitados, seus membros aconselhavam os jovens. Rapazes e moças respeitavam-nos como os gregos respeitavam os oráculos.

Leitor pergunta

Lia Ferro, Recife: As estações do ano se grafam com inicial maiúscula ou minúscula?

As estações do ano jogam no time dos vira-latas. Escrevem-se com a inicial minúscula: primavera, verão, outono, inverno.

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