Terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 24 de fevereiro de 2025
Economista-chefe do banco Santander, Ana Paula Vescovi vê um cenário mais difícil para a economia brasileira em 2025. Depois de anos em que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu para cima, ela não tem dúvidas de que a atividade econômica vai desacelerar. No cenário traçado pelo Santander, o PIB deve crescer 1,8% em 2025, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançará um patamar próximo de 6% e a taxa básica de juros – atualmente em 13,25% – vai chegar a 15,5% em junho e terminará o ano em 14,5%.
“O que a gente vê é, se o Banco Central caminhar nesse nível de subida de juros e conseguir ancorar, ainda que parcialmente, as expectativas lá na frente, no horizonte de referência, ou conter essa piora das expectativas, ele pode, inclusive, conseguir reduzir os juros ainda este ano”, afirma.
1) Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu com resultados melhores do que o esperado. O banco projeta uma desaceleração em 2025. O que explica esse cenário?
Esse é o principal ponto de atenção dos agentes de mercado atualmente. Ou seja, qual vai ser o tamanho dessa desaceleração e sua distribuição no tempo. Eu acho que ninguém mais acredita que a gente não terá um PIB menor em 2025 comparativamente com o de 2024. E adicionaria que a nossa expectativa, em particular, é que as surpresas em relação ao tema de crescimento e projeções de analistas de mercado tendem a ser baixistas dessa vez. Passamos por muitos anos com surpresas altistas. Há muita probabilidade de que essas surpresas sejam baixistas neste ano.
2) E por que vai ser diferente dos últimos anos?
O grau de contracionismo das condições financeiras aumentou muito desde setembro. E o quadro vem desde 2022. Não só porque o País estava com juro real acima de 6% desde então, mas porque esse juro real ficou ainda maior desde setembro do ano passado. Isso tende a chegar à atividade econômica. Também não há mais espaços, como houve no passado, em termos de impulsos fiscais. Os estímulos fiscais deste ano serão menores do que os de anos anteriores. Então, somando um grau de contração das condições financeiras com uma perda de impulso fiscal, a gente não tem dúvida de que a atividade irá desacelerar. Resta saber quanto e quando ela desacelerará.
3) Qual é a previsão de crescimento para 2025?
Temos uma projeção de 1,8% de crescimento. É uma margem que vai entre 1,5% e 2%. Nós acreditamos que o primeiro trimestre ainda tem fatores positivos para a atividade, como a safra, a atualização do valor do salário mínimo e dos salários do setor privado em algumas dimensões. Para o segundo trimestre, vemos o pagamento de precatórios. Será menor do que o do ano passado, mas ainda vai ser um pagamento muito importante. E medidas usuais, como a antecipação do 13.º da folha de pensionistas e aposentados do INSS.
Mas vão faltar mais estímulos além da safra e dessas medidas fiscais para o segundo semestre, que será um período de atividade mais contida. Temos um número levemente positivo, mas, dada a margem de erro das projeções, esse número pode ser levemente negativo. O que os analistas costumam falar é que dois números negativos subsequentes do PIB, embora sejam pequenos, levam à caracterização de uma recessão técnica.
4) A Selic chega até qual patamar?
No nosso cenário, a Selic vai até 15,5%. Vemos o Banco Central subindo os juros até junho. E a gente vê o câmbio voltando para um patamar de R$ 5,70 ou abaixo disso. (O câmbio) Permanecendo por mais tempo nesse patamar, é possível que vejamos uma pressão menor sobre as expectativas de inflação no horizonte de referência da política monetária. Se isso ocorrer, abre algum espaço para o Banco Central não ir tão longe (com a altas dos juros).
A gente vê o Banco Central subindo os juros nas condições atuais até o final do primeiro semestre. O que a gente vê é, se o Banco Central caminhar nesse nível de subida de juros e conseguir ancorar, ainda que parcialmente, as expectativas (de inflação) lá na frente, no horizonte de referência, ou conter essa piora das expectativas, ele pode conseguir reduzir juros ainda este ano. (Estadão Conteúdo)