Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de junho de 2023
O maior congresso de oncologia do mundo reúne especialistas e pesquisadores de câncer no Centro de Convenções McCormick Place, em Chicago, Estados Unidos. Durante a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), que ocorreu nessa semana, um dos estudos divulgados mostrou resultados do uso de ribociclibe — um medicamento que atua como inibidor das enzimas CDK4/6, causadoras mais comuns das células cancerosas — em pacientes diagnosticados em estágio inicial da doença que, após tratamento, apresentam risco de recidiva (ou seja, o retorno da atividade da doença).
O Comitê Independente de Monitoramento de Dados do estudo recomendou encerrá-lo mais cedo, pois o objetivo primário que era a sobrevida livre de doença invasiva (ILDi) foi alcançado. A pesquisa avalia a administração de ribociclibe, um medicamento administrado por via oral, combinado à terapia endócrina, e mostrou a redução de até 25% de recidiva da doença a depender do diagnóstico.
O ribociclibe é usado atualmente no tratamento de câncer de mama metastático — fase em que a doença se espalha pelo corpo e tem maior letalidade. A possibilidade de expandir o uso para outras fases da doença tem entre os objetivos a melhora da qualidade de vida das pacientes, com efeitos adversos do tratamento mais brandos. Mais de 90% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama no mundo estão em estágios iniciais. O risco de recidiva nessas situações atinge o pico nos primeiros três anos após o diagnóstico inicial. Para muitas dessas pacientes não há opções terapêuticas direcionadas além da quimioterapia padrão e da terapia endócrina.
Avanço dos tratamentos
Os resultados da pesquisa sobre o tratamento de câncer de mama em estágio inicial foram alcançados a partir do estudo global Natalee, da farmacêutica Novartis. É um estudo multicêntrico (ocorre de forma simultânea por meio de um mesmo protocolo e em diversas instituições); randomizado (com seleção aleatória de participantes); e aberto de fase 3 (penúltima fase de uma pesquisa clínica, que acompanha milhares de pacientes e tem como objetivo obter informações sobre segurança, eficácia e interação de drogas). Os resultados do Natalee são apresentados em reuniões médicas e científicas e submetidos às autoridades reguladoras em todo o mundo.
Câncer de mama
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama, formando um tumor. É a genética do tumor que define o tipo de câncer de mama. Os receptores hormonais (RH) e o receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) são proteínas importantes e definem os quatro principais tipos de câncer de mama. Mais de 90% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama estão em estágios iniciais.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos de câncer em mulheres. É também a causa mais frequente de morte por câncer nessa população.
No Brasil, o câncer de mama feminina é o segundo tipo com maior incidência (10,5%), atrás apenas do tumor de pele não melanoma (31,3%). O dado é da Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, lançada em 2022 pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). O estudo também estima que, até 2025, 74 mil novos casos da doença devam surgir no país.
Regulamentação
Todo novo tratamento para qualquer tipo de doença precisa de aprovação pelos órgãos locais. A Novartis informou à imprensa que planeja enviar os dados da fase 3 do estudo às autoridades regulatórias nos Estados Unidos e na Europa ainda em 2023, para a aprovação do uso do medicamento Kisqali no tratamento do câncer de mama em estágio inicial.
No caso do Brasil, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) é a responsável por avaliar os tratamentos ofertados na rede pública, e a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) abrange as autorizações para os planos de saúde.
Em fevereiro de 2021, a classe de medicamentos inibidores de ciclinas — como o ribociclibe — foi incorporada ao rol da ANS para o tratamento de pacientes com câncer de mama localmente avançado ou metastático. A Conitec seguiu o mesmo caminho em dezembro, mas o tratamento ainda não foi disponibilizado pelo Ministério da Saúde para todo o Sistema Único de Saúde.