Quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Por que cada vez mais usuários trocam o X por outras plataformas

Bluesky ganha adeptos após as eleições nos EUA. Êxodo de usuários proeminentes da rede de Elon Musk sugerem uma nova tendência que pode fragmentar o ambiente nas redes sociaisEstá em andamento o que parece ser mais um êxodo de usuários da rede social X, de propriedade de Elon Musk, enquanto serviços parecidos disparam para o topo dos rankings de downloads de aplicativos e cortejam milhões de novos usuários, principalmente após as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Não está claro se os usuários estão deixando o X – antigo Twitter – permanentemente ou se estariam simplesmente estabelecendo novos perfis em outras plataformas. Mas o fato é que marcas e indivíduos mencionam como motivos de suas saídas o substancial apoio financeiro e retórico de Musk a Donald Trump nas eleições dos EUA, bem como a natureza polarizadora do X.

O Bluesky, originalmente um projeto do Twitter que foi desmembrado e se tornou uma outra empresa, relatou mais de 1 milhão de novos usuários na última semana, somando 15 milhões ao todo.

Embora seja peixe pequeno no campo das mídias sociais, a plataforma disparou para o primeiro lugar no ranking da App Store da Apple nesta semana, logo à frente do concorrente do Instagram, o Threads.

Esta não é a primeira vez que o X vê um declínio em usuários ativos. As quedas aconteceram notavelmente depois que Musk assumiu o controle do Twitter, em outubro de 2022, e quando o Brasil baniu a plataforma, em agosto deste ano.

No entanto, parece que o apoio de Musk a Trump provou ser a gota d’água para alguns usuários da rede. “De certo forma, este é um momento crítico”, disse Bart Cammaerts, pesquisador de comunicações e democracia na London School of Economics, à DW.

Cammaerts aponta para a redução da moderação de conteúdo e a radicalização da retórica do próprio Musk como fatores latentes que podem ter ajudado a afastar os usuários.

“Acho que o fato de vermos agora tantas pessoas fazendo essa mudança se explica por uma combinação de abordagens que estão em andamento há mais tempo [do que as eleições americanas].”

Quem está deixando o X?

Nessa quarta-feira, o jornal britânico The Guardian informou que deixará de postar no X, mas não excluirá suas contas.

O jornal não está sozinho ao deixar ou reduzir sua presença no X. As empresas de mídia americanas NPR e PBS pararam de postar na plataforma no ano passado. A emissora Australian Broadcasting Corporation também reduziu suas dezenas de páginas no X para apenas quatro: notícias, esportes, língua chinesa e perfis de masterbrand.

Mais notáveis foram as saídas de celebridades. As atrizes americanas Jamie Lee Curtis e Bette Midler excluíram suas contas no X, mas mantiveram presença em outros lugares. Elas se juntaram a antigos usuários do X, como Elton John, Jim Carrey, Whoopi Goldberg e Gigi Hadid, que deixaram ou pararam de postar após a aquisição do Twitter por Musk, em 2022.

Outras figuras públicas vocalizaram sua intenção de deixar o X, mas ainda não excluíram seus perfis. Entre eles estão nomes importantes da imprensa e da política, como o ex-âncora de notícias da CNN que virou streamer do YouTube Don Lemon e a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

Há claramente uma tendência de perfis ideologicamente mais à esquerda entre as personalidades mais expressivas a deixarem a plataforma. Contudo, algumas marcas também estão deixando o X, e isso não se limita apenas às anglófonas.

O Festival de Cinema de Berlim e o clube de futebol FC St Pauli estão entre as entidades alemãs que anunciaram suas saídas. No início de 2024, mais de 50 organizações sem fins lucrativos na Alemanha informaram o abandono da rede por meio do portal byebyeelon.de.

No ano passado, grandes marcas suspenderam suas campanhas publicitárias na plataforma citando um aumento no conteúdo de ódio, o que gerou uma repreensão pública de Musk.

O que explica o êxodo?

Entre os motivos citados para a saída da plataforma está o aumento contínuo de conteúdo negativo na plataforma. Isso inclui o conteúdo tóxico, descrito pelo The Guardian em seu anúncio como “conteúdo frequentemente perturbador promovido ou encontrado na plataforma, incluindo teorias da conspiração de extrema direita e racismo”.

Mesmo assim, pode ser difícil apontar uma única causa para a saída. O jornal observou que sua decisão demorou muito para ser tomada e que seus recursos poderiam ser “melhor utilizados” em outro lugar.

“As empresas de notícias não têm recursos ilimitados, o público não tem atenção ilimitada, então elas podem ter que tomar uma decisão estratégica se houver uma plataforma que esteja associada a um alto nível de incertezas quando se trata de como as conversas evoluirão no curto prazo”, disse Silvia Majo-Vazquez, pesquisadora de comunicação política da Universidade Vrije Amsterdam.

“Elas querem converter o público nas plataformas de mídia social, [então] quais públicos vocês estão mirando agora no Twitter [X] com a queda de usuários?”

“Outras plataformas estão ganhando força, então provavelmente elas [as empresas] mobilizarão seus recursos para aquelas plataformas que fornecem novos [grupos] que são mais difíceis de alcançar”.

No caso dos indivíduos, muitos estão comentando que a sensação ao utilizarem outras plataformas de microblog é como o Twitter antigo, com menos bots e mais interações individuais.

“Se essas funcionalidades puderem ser oferecidas por outras alternativas e pessoas suficientes fizerem essa troca, isso pode acontecer bem rápido. Também vimos isso no passado com outras plataformas como o Myspace, por exemplo”, disse Cammaerts.

“O menor de dois males”

Por mais que celebridades, políticos e marcas possam voltar seus olhares para novas redes sociais, as plataformas emergentes ainda são vulneráveis às mesmas interações negativas e conteúdo tóxico que prevalecem nas mídias sociais estabelecidas.

“De certa forma, as pessoas adotam o menor de dois males, porque todas essas plataformas têm modelos de negócios que, em essência, são voltados para a extração, para a mercantilização de sua sociabilidade de tal modo que contrariam sua privacidade”, observou Cammaerts.

“Então, claro, o X é o pior e é problemático por uma série de razões políticas, mas isso não significa que essas outras plataformas sejam necessariamente boas.”

É difícil prever para onde rumará futuramente o discurso público online, mas o pesquisador acredita que esta é uma conversa que temos que iniciar agora.

“Como queremos que seja o nosso ambiente democrático de mídia? Como queremos que se pareça? Poderemos, por meios democráticos, regulá-lo de forma que atinja esse ideal mais do que acontece hoje em dia? Isso também pode se tornar um debate polêmico.”

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