Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025

Por que Trump ameaça tomar à força o Canal do Panamá e a Groenlândia? Entenda

Desde que garantiu seu retorno à Casa Branca em novembro, Donald Trump tem surpreendido até mesmo aliados ao manifestar publicamente suas ambições expansionistas. Em uma coletiva de imprensa, o republicano disse que não descarta usar aparato militar para tomar o Canal do Panamá ou a Groenlândia, território autônomo que faz parte da Dinamarca, repetindo ameaças ecoadas nos últimos dois meses. Não escapou nem o vizinho Canadá, que ganhou do magnata a alcunha de “51º estado” americano.

Mas se durante a campanha eleitoral o magnata se gabou de que nenhuma guerra havia começado no seu primeiro mandato –em referência aos conflitos na Ucrânia e em Gaza que emergiram sob o governo de Joe Biden –, por que ele agora aposta na retórica do medo contra seus próprios aliados?

Para Lucas de Souza, analista político e professor da Universidade Temple, na Pensilvânia, o discurso inflamado do presidente eleito esconde interesses que vão além do aparente imperialismo à primeira vista.

“Essa retórica tem a ver com o cenário pós-eleição: uma das suas principais ideias era alegar que os EUA não eram mais temidos no exterior e, por isso, a Rússia teria investido contra a Ucrânia”, contextualiza Souza. “Hoje existe um temor quanto à deflagração de novas guerras, por isso eu enxergo essa verborragia mais como uma forma de evitar que mexam com os EUA em qualquer instância do que um desejo de engajar de fato numa ação militar.

Panamá e China

Cada um dos alvos teria uma motivação diferente, afirma Souza. No caso do Panamá, as ameaças partem tanto de uma tentativa de diminuir as tarifas pagas pelos Estados Unidos quanto de passar uma imagem de força. A estratégica passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico, por onde cerca de 14 mil navios cruzam anualmente, esteve sob controle dos EUA durante décadas após sua finalização, em 1914, até ser devolvida ao Panamá em 1999.

Atualmente, dois portos do canal são administrados por empresas de Hong Kong. Com a iminência de uma guerra comercial com a China e o aumento de tarifas a produtos estrangeiros, a retórica pode servir aos interesses econômicos dos EUA. De acordo com um conselheiro de Trump ouvido pela CNN sob anonimato, a redução nas taxas pagas por navios americanos ajudaria o governo a compensar o impacto inflacionário do “tarifaço” prometido pelo republicano na economia americana.

Por outro, Souza avalia que as ameaças seriam uma forma de Trump reafirmar o poderio militar americano a Pequim sem comprar uma briga direta.

“Para acenar à sua base, é mais fácil falar do Panamá do que de Taiwan, por exemplo, que poderia gerar uma catástrofe”, pontua. “Como estratégia militar, para apresentar os EUA como um país a ser temido, faz muito mais sentido ameaçar o Panamá, um país de pequena extensão territorial da América Latina. Os EUA precisam ser precavidos para não atiçar nações com um forte poderio.”

Groenlândia

Maior ilha do mundo e rica em petróleo e minerais, a Groenlândia é alvo de interesses internacionais há bastante tempo. No seu primeiro mandato, Trump já havia dito que gostaria de comprar o território dinamarquês de 55 mil habitantes, ecoando o ex-presidente americano Harry Truman, que chegou a oferecer US$ 100 milhões pelo território ao final da Segunda Guerra.

Há vários motivos pelos quais a Groenlândia serviria aos Estados Unidos. Do ponto de vista militar, por exemplo, a região está localizada estrategicamente entre o país e a Europa, abrigando o posto mais ao norte das Forças Armadas americanas, além de instalações espaciais, radares e um sistema de alerta de mísseis essencial para repelir um eventual ataque de Moscou.

(AG)

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