Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de novembro de 2024
Mais de 20 crateras “explodiram” na camada congelada da Sibéria, no Ártico russo, desde 2014 – dez anos depois, cientistas afirmam ter descoberto por quê. Os buracos na paisagem das Penínsulas Yamal e Gydan intrigaram pesquisadores e curiosos, que passaram a chamar as misteriosas aberturas no solo de “porta do inferno” e a trocar teorias – que vão de impacto de meteoro à ação de alienígenas.
De acordo com a CNN, uma equipe de engenheiros, físicos e cientistas da computação diz ter chegado a uma conclusão sobre o caso. As descobertas, publicadas num estudo no mês passado, apontam que o fenômeno se deve ao impacto das mudanças climáticas na geologia incomum da região.
Os pesquisadores já haviam estabelecido uma espécie de consenso: as crateras se abrem quando gases presos sob a tundra, como o metano, se acumulam no subsolo, e esse acúmulo forma um “monte” na superfície. Só que a pressão abaixo pode ser demais e fazer “explodir” esse monte, o que expele gases e origina os buracos. Faltava saber, porém, como a pressão do subsolo aumenta e de onde vêm os gases, exatamente.
Ana Morgado, autora do estudo e engenheira química da Universidade de Cambridge, disse que a equipe descartou reações químicas como causadoras das explosões. Voltaram-se, então, à física da região, na geologia complexa das Penínsulas da Sibéria, em que abaixo do solo há a chamada permafrost – camada da crosta terrestre que está permanentemente congelada.
Os cientistas apontaram que, abaixo da permafrost, há hidratos de metano e, entre essas duas camadas, bolsões de menos de um metro com água salgada e descongelada (os “criopegs”). As mudanças climáticas têm aumentado a temperatura e feito derreter a camada superior do solo, o que faz com que a água escorra pelo permafrost, entre no criopeg e, “depois de décadas”, cause explosões.
“O problema é que não há espaço suficiente para a água extra, então o criopeg incha, a pressão aumenta e o solo se quebra, enviando rachaduras à superfície. Essas rachaduras causam uma queda rápida na pressão nas profundezas, danificando os hidratos de metano e causando uma liberação explosiva de gás”, explica a pesquisa.
Cientistas divergem
Morgado destacou que, até o momento, o fenômeno é tido como exclusivo para a região. Caso ocorra em outras partes do mundo, o mistério pode ser reaberto.
Para alguns pesquisadores, como Evgeny Chuvilin, cientista-chefe de pesquisa do Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkovo em Moscou, a ideia do estudo é “nova”, mas não leva em conta as complexidades da geologia siberiana.
Já Lauren Schurmeier, geofísica da Universidade do Havaí, afirma que a pesquisa faz sentido “na teoria”, mas alertou à CNN haver “muitas fontes potenciais de gás para essas crateras”. Os cientistas concordaram, no entanto, que as mudanças climáticas podem levar a um aumento da aparição de crateras “porta do inferno” num futuro próximo.