Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Prefeita Juliana Carvalho, de Eldorado do Sul: “Toda a capacidade de resposta do município foi afetada pela enchente”

Primeira mulher a governar o município de Eldorado do Sul, que ganhou notoriedade nacional e internacional por ter quase 90% da sua área atingida pelas enchentes de 2024, Juliana Carvalho (PSDB), ao lado do vice, Giovani Bombeiro (PL), estão diante do grande desafio de reconstruir a cidade. Eldorado do Sul tem 36 anos desde a sua emancipação de Guaíba, e uma população estimada pelo último censo em 43 mil habitantes. dos quais um terço abandonou a cidade no auge da tragédia.

Ainda se inteirando das dimensões do desafio, a prefeita avalia que “toda a capacidade de resposta do município foi afetada pela enchente, e isso dificulta uma reação mais eficaz”.

Ela recorda que, desde que assumiu, tem investido na limpeza da cidade, revisão dos sistemas de drenagem. Muitas tubulações quebradas, destruídas e entupidas pela areia, o que torna a cidade vulnerável a qualquer nova chuva mais intensa. Um trabalho bem árduo, agravado pelo fato de não existirem recursos.

Segundo a prefeita Juliana, “desde que assumimos, estamos tentando buscar esses recursos, elaborando projetos”. Especificamente em relação ao chamado Funrigs, o Fundo de reconstrução do Estado, alimentado pelos recursos que seriam utilizados para pagar a divida com a União, ela admite que o governo do Estado tem disponibilizado alguns projetos para acesso a esses recursos, mas pelo volume de danos que Eldorado sofreu, a necessidade de recursos é extraordinária. “Com vinte dias de governo, ainda estamos fazendo esse levantamento para um diagnóstico em todas as secretarias”, explica. Ela conversou com o ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, que prometeu realizar na segunda quinzena de fevereiro uma reunião regional em Eldorado do Sul para avaliação do repasse de recursos federais aos municípios atingidos pelas enchentes.

Questão habitacional é grave

O déficit habitacional é um caso à parte em Eldorado do Sul. Os dados existentes apontam que 2.300 famílias deixaram a cidade, após terem as residências completamente destruídas, “mas essa solução não acontece ‘para ontem’ como a maioria deseja”.

A prefeita Juliana Carvalho aponta que “estamos tentando mapear esse pessoal, muitos abrigados em casas de familiares, alguns em abrigos e muitos que abandonaram a cidade. Existem aquelas famílias que abandonaram Eldorado do Sul e que estão muito traumatizada e não pensam em voltar”.

Segundo ela, “cerca de 10 mil pessoas foram para o município de Guaíba no auge da enchente, e isso representa cerca de 30% da população. Estamos ainda mapeando quantos retornaram, e identificamos que muitos voltaram para residências sem condições habitar”.

Embora Eldorado do Sul tenha ganho mais receitas próprias, esse crescimento se mostra insuficiente diante do tamanho do trabalho de reconstrução. “Estamos focando um trabalho sério para a captação recursos dos governos federal e estadual”, explica.

A mancha da enchente, outro problema

A prefeita enfrenta uma outra dificuldade de ordem burocrática para resolver o déficit habitacional: embora o Governo Federal tenha disponibilizado recursos para compra de moradias, existem problemas a serem contornados. O Governo Federal anunciou a compra de casas que estejam à venda, e expansão do programa Minha Casa, Minha Vida. Porém, em Eldorado do Sul existem poucas moradias disponíveis para venda, e a Caixa Federal não autoriza compra de casas dentro da chamada mancha e inundação. Esse critério impede a aquisição em praticamente toda área urbana de Eldorado do Sul. A prefeita busca uma reavaliação desse critério, que considere a mancha antes da tragédia, e que também as obras de contenção que estão sendo feitas, sejam consideradas no novo mapa da mancha, excluindo estas áreas da restrição. Em relação ao governo do estado, há um dialogo permanente com a Secretaria de Habitação, para a construção de moradias.

Herança do governo anterior: “Deixou contas a pagar e nenhum projeto”

Juliana Carvalho lamenta que do governo anterior (Ernani Gonçalves, PDT) “ficaram contas a pagar, mas nenhum projeto para a busca de recursos. Além disso, herdamos mais de uma centena de contratos de aluguéis sociais assinados pela antiga administração, sem nenhuma previsão orçamentária. E Precisaremos pagar esses contratos, tirando recursos de outro lugar”.

Ela esteve reunida com secretário extraordinário da reconstrução Maneco Hassen, de quem recebeu uma péssima notícia: o governo federal não tem condições de ajudar. Segundo o secretário, “todo dinheiro que deveria ser investido no Rio Grande do Sul, já foi investido”. Embora o governo federal tenha encaminhado muitos recursos, em relação ao aluguel social por exemplo, eles não tem mais condições de repassar recursos para Eldorado do Sul”.

Relação politica é de união pela reconstrução de Eldorado do Sul

Juliana Carvalho e o seu vice, Giovani Bombeiro, veem como positiva a integração das lideranças políticas da cidade. Além de atuar ao lado do vice-prefeito, ela lembra que o seu grupo político elegeu apenas dois vereadores, “e hoje numa Câmara com nove membros, temos maioria. Há um consenso de que no momento não tem espaço para disputa politica, e todo mundo considerou que é hora de ajudar e deixar de lado diferenças partidárias e ideológicas”.

(Instagram: @flaviorrpereira)

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