Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024

Presidente da Argentina, Javier Milei ganha confiança dos mercados ao tirar seu país da recessão

Em recente ato para celebrar os 100 anos da Câmara Argentina de Comércio e Serviços, o presidente Javier Milei aproveitou para anunciar aos argentinos que “a recessão terminou e o país começou novamente a crescer”.

Nos últimos dias, vários funcionários de seu gabinete comemoram nas redes sociais o fim da recessão, confirmada por economistas locais ouvidos pelo jornal O Globo, que destacaram ainda outros indicadores positivos, que fazem de Milei um presidente amado pelo mercado e elogiado pelo Fundo Monetário Internacional: a queda expressiva da taxa de risco do país, da inflação e do dólar; o equilíbrio das contas fiscais; e os dados positivos, embora ainda tímidos, de reativação da economia.

A economista Marina dal Poggetto, diretora executiva da consultoria EcoGo, explica a euforia dos mercados por quatro fatores:Temos previsão de encerrar este ano com superávit fiscal, pela primeira vez em 16 anos. O BC voltou a comprar reservas, a inflação passou de 25% ao mês, em dezembro do ano passado, para 2,7% em outubro, e o governo, apesar de ser minoria, está conseguindo aprovar projetos no Parlamento.”

A taxa de risco do país, indicador da confiança dos mercados globais, passou de quase 2 mil pontos-base quando Milei assumiu, em dezembro do ano passado, para 850 pontos no início de novembro. Com a progressiva liberação do câmbio, a diferença entre o dólar oficial e o paralelo hoje é mínima: estavam cotados ontem a 1.040 e 1.120 pesos, respectivamente.

E a popularidade de Milei se mantém em um patamar relativamente alto. Pesquisa realizada mês passado pela consultoria Casa Tres mostra que a aprovação do governo passou de 42% em setembro para 49%.

Recuperação do consumo

Como a grande maioria de seus colegas, o economista Miguel Kiguel, da Econviews, concorda quando o presidente diz que a Argentina saiu da recessão. Ele ressalta, no entanto, que o nível de atividade econômica ainda é baixo:

“Uma coisa é deixar de cair, outra é dizer que a atividade recuperou o vigor do ano passado. A maioria dos setores econômicos ainda está entre 8% e 10% abaixo de 2023. Mas estamos subindo novamente, e em 2025 projetamos um crescimento de 5%.”

Este ano, os economistas estimam que o PIB argentino sofrerá queda entre 2% e 3%, apesar da recuperação que começou a aparecer no segundo semestre. Em julho (7,5%), agosto (1,8%) e setembro (2,5%), o Índice de Produção Industrial (IPI) medido pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, o IBGE local), foi positivo frente ao mês anterior. No entanto, nos primeiros nove meses de 2024, o IPI acumula queda de 12% na comparação anual.

Um dos últimos indicadores a se recuperar foi o consumo. Em outubro, segundo dados da Confederação Argentina da Média Empresa (Came), as vendas do varejo aumentaram 7,4% ante setembro. Foi o primeiro mês positivo do ano.

Entre janeiro e outubro, a Came estima uma queda do consumo de 13,2% frente o mesmo período de 2023. Nos supermercados, segundo o Indec, as vendas começaram a subir em agosto, que avançou 0,24% em relação a julho.

“Os salários se recuperaram, e em 2025 poderíamos crescer até 6%. No ano que vem, uma das questões fundamentais será o financiamento bancário para ajudar as empresas a se adaptarem e competirem”, afirma o ex-ministro da Produção e diretor da Abeceb, Dante Sica.

Ele observa que, depois que quase de “transição”, há “uma mudança de expectativas muito fortes entre empresários e na sociedade”. “A recessão foi superada no segundo trimestre.”

O analista Ivan Sasovsky, da Expansion Holding, concorda com Sica e considera que a conquista do superávit fiscal é “a coluna vertebral do governo”. Para ele, Milei derrubou “o fantasma de que dívidas só podem ser pagas com emissão monetária”:Os países se apaixonam pelo déficit fiscal e a emissão monetária, que são mecanismos válidos para fazer políticas públicas, mas não são sustentáveis. Hoje existe um ambiente de confiança, com fundamentos.”

O barco argentino, que vivia à beira do naufrágio, está “se acomodando”, ilustra Fernando Corvaro, CEO da Pampa Capital:Hoje somos o único país da região que tem superávit fiscal e o mercado acredita que isso será mantido.”

Pobreza elevada

Perguntado pelo custo social do ajuste, o economista, em sintonia com Milei, respondeu que “muito pior é ter um déficit fiscal alto, como a Argentina teve durante mais de 120 anos. Isso nos levou a ter 50% da população abaixo da linha da pobreza”. Corvaro afirma que, “no ano que vem, os mercados se abrirão novamente para a Argentina.”

No primeiro semestre de 2024, a taxa de pobreza da Argentina atingiu 52,9%, recorde dos últimos 20 anos. Nas classes média e baixa, o ajuste de Milei foi um tsunami. Setores como saúde, educação e cultura sofreram cortes orçamentários que levaram a uma onda de protestos.

“Hoje o número que dói é o da pobreza”, diz Kiguel. As informações são do jornal O Globo.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

Real tem um dos piores desempenhos do mundo entre as moedas em novembro
Governo endurece regras para a concessão do Benefício de Prestação Continuada
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play