Sábado, 28 de dezembro de 2024

Psicólogos alertam para danos à saúde mental causados pelo “sumiço digital”

“Responsabilidade afetiva é saber que o que fazemos tem consequências na vida de quem está ao nosso redor. Atrás de uma tela existe alguém que sonha, que vive, que anseia, que espera, que deseja e que já sofreu. Cuidar e ser cuidado é a ação essencial do amor visto como saudável.” A postagem que fez sucesso nas redes sociais é de Alejandro Schujman, psicólogo argentino especialista em família.

Desaparecer, deixar de responder ou bloquear diretamente alguém sem aviso prévio nas redes é conhecido, há algum tempo, como “ghosting” (termo em inglês derivado da palavra ghost, que significa fantasma). Os psicólogos admitem que a tecnologia apenas acelerou e facilitou o que já existia no mundo real.

A ação de sumir sem nenhuma explicação anda de mãos dadas com a irresponsabilidade emocional, com o não levar em conta os sentimentos do outro.

É consenso entre os especialistas que o crescimento generalizado dos contatos virtuais, envolvendo, muitas vezes, pessoas desconhecidas, facilita a possibilidade de “desaparecimento”, situação que acontece não só nas relações afetivo-sexuais mas também nas amizades e vínculos de trabalho.

Desobrigadas a mostrar o corpo e o rosto, muitas pessoas se sentem livres para agir a partir de uma espécie de anonimato, avalia a psicóloga Claudia Ghersevich.

“É mais fácil se desconectar do outro, e também é uma forma de se desconectar daquilo que mobilizaria a pessoa para enfrentar o conflito. É uma maneira rápida de terminar algo com o que você não quer lidar. O contato desaparece, o conflito desaparece”, reforça a especialista esclarecendo que essa decisão de sumir é consciente.

O psicólogo Fabio Calvo confirma que, embora aqueles que “desaparecem” de um relacionamento tenham existido “a vida toda”, a tecnologia torna essas ações mais “evidentes e virais”.

Calvo atribui esses comportamentos a quem se move socialmente com “desapego ou apego mal aprendido” e concorda que as pessoas podem agir por medo, por não ousar falar as coisas diretamente para o outro, mas alerta que isso pode machucar alguém.

“A comunicação está mais despersonalizada, a multiplicidade de canais virtuais possibilita uma dose de crueldade que não significa que haja, necessariamente, mais pessoas más, mas sim que são tempos de amor covarde, de medo de compromisso”, diz Alejandro Schujman.

“A maioria das pessoas sofre quando as coisas terminam sem explicação, quando as situações ficam sem solução clara. Esse tipo de atitude é prejudicial e se a pessoa que sofreu o “ghosting” estiver em um momento de baixa autoestima, é ainda pior”, reforça o especialista.

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