Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Quadruplica número de brasileiros que querem voltar de Portugal

O número de brasileiros em Portugal que pediram ajuda para voltar ao Brasil em 2022 quase quadruplicou em comparação com 2021. Desemprego, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, situação irregular, falta de preparação no processo migratório e custo de vida mais elevado no país europeu são os principais fatores para este cenário.

O Programa de Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração da Organização Internacional para as Migrações (OIM) viu o número de pedidos de ajuda subir nos últimos meses em Portugal. Tendo por base os dados de 2022, inscreveram-se, em média, cerca de 80 pessoas por mês no programa da OIM. De todos os que procuram apoio, 92% são brasileiros em situação de extrema vulnerabilidade.

Em entrevista à RFI, Vasco Malta, chefe de Missão da OIM em Portugal, explica que a situação é preocupante e uma das razões para este cenário alarmante é a pouca informação sobre a realidade portuguesa, além de um planejamento deficiente antes de deixar o país de origem.

“Este fluxo mais recente mostra uma falta de preparação e informação insuficiente neste processo, que acaba por conduzir a situações verdadeiramente complexas do ponto de vista social em Portugal”, aponta o chefe da OIM no país.

“A verdade é que também existe muita desinformação nas redes sociais, que acaba por potenciar a decisão de migrar para Portugal tendo por base apenas estas fontes, e não a informação oficial”, explica Malta.

“Por vezes, as pessoas até podem trazer economias, mas quando precisam de enfrentar a difícil realidade do mercado imobiliário ou do próprio aumento do custo de vida, por exemplo, esta verba de emergência acaba por ser consumida muito rapidamente”, completa.

Vulnerabilidade dos brasileiros

O aumento significativo de pedidos de ajuda mostra uma situação caótica parecida com a vivida em 2020, ano da eclosão da pandemia da Covid-19. “No geral, registrou-se um aumento de número de pedidos de apoio de 2021 para 2022. Falamos de 288 casos em 2021 para 1.051 em 2022″, contabiliza Malta. Ele aponta ainda que 113 retornaram ao Brasil com a ajuda do dispositivo em 2021, contra 394 em 2022.

O Brasil continua sendo a comunidade mais representativa no total desses pedidos de ajuda para voltar ao país de origem. Eles já representavam 82% dos beneficiários do programa em 2021 e, em 2022, chegaram a 92%.

Malta explica que 53% dos que pedem esse tipo de ajuda são mulheres e que 30% do total volta para o Brasil no mesmo ano em que chegou em Portugal. Outros 37% permanecem no país europeu pelo menos um ano, antes de solicitar o apoio para retornar. “Na maior parte dos casos, cerca de 91% estavam em situação irregular”, ressaltou o chefe da OIM em Portugal.

Nayara Silva Ribeiro, 41 anos, é de Ipatinga, Minas Gerais e chegou a Portugal em novembro de 2022 com os três filhos. Ela está sem emprego, e as crianças, sem escola. Ela também sofre de uma doença crônica. Por isso, apesar do pouco tempo na Europa, já pediu apoio à OIM para regressar ao Brasil.

“Eu tenho três filhos, uma de 9 anos, um de 10 e outra de 15. Vim praticamente enganada. O que a pessoa me falou é que aqui era totalmente diferente, que era tudo mais fácil. Eu tenho uma doença crônica, que se chama lúpus. Ao chegar aqui, piorei e fiquei impossibilitada de fazer tudo. Meus filhos estão até hoje sem ir à escola, eu não tenho condição nenhuma de arcar com as despesas deles, nem as minhas”, conta Nayara.

“Quem me trouxe foi meu namorado, e vejo que está muito apertado para ele dar conta de tudo. Não está sendo fácil. Eu estou praticamente de cama, sem conseguir fazer nada e cada dia que passa fica mais difícil. Estou pedindo ajuda para voltar para o Brasil urgente”, desabafa.

Diante de tantas dificuldades que tem enfrentado, a brasileira faz um apelo: “Pelo amor de Deus, para quem está pensando em vir para Portugal, faça antes bom planejamento financeiro. Tenha a cabeça no lugar. Caso contrário, não arrisquem! Só eu e Deus sabemos o que eu estou passando, porque estou sem tratamento, sem medicação e preciso regressar para o Brasil urgente. Já tentei ajuda no Consulado, mas não consegui. Fui à Assistência Social de Arruda dos Vinhos, onde estou morando, mas também não podem me ajudar, pois estou em Portugal com visto de turista e agora estou à espera da OIM. Só depois de 90 dias no país é que poderão avaliar minha situação”, explica.

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