Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Recorde de temperatura em 2024 confunde cientistas

Segundo o jornal britânico The Guardian, o recorde de temperatura em terra e no mar em 2024 levou os cientistas a questionarem se estas anomalias estão em linha com os padrões de aquecimento global previstos ou se representam uma aceleração preocupante do colapso climático.

Ao mesmo tempo, o calor da superfície dos oceanos permanece persistentemente e assustadoramente elevado, apesar do enfraquecimento do El Niño, que tem sido um dos principais impulsionadores das temperaturas globais recordes no ano passado.

Assim, cientistas estão divididos sobre estas temperaturas extraordinárias.

A publicação diz que alguns cientistas consideram que as tendências atuais estão dentro das projeções dos modelos climáticos de como o mundo irá aquecer como resultado da queima de combustíveis fósseis e florestas. Outros estão perplexos e preocupados com a velocidade das mudanças, porque os mares são o grande moderador do calor da Terra e absorvem mais de 90% do aquecimento antropogênico.

A secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo, disse que o El Niño contribuiu para tornar 2023 facilmente o ano mais quente já registrado, embora o principal culpado tenha sido o nível das emissões de combustíveis fósseis.

Contudo, quando se trata dos oceanos, disse ela, o quadro é mais sombrio e perturbador: “A temperatura da superfície do mar em janeiro de 2024 foi de longe a mais alta já registrada para janeiro. Isto é preocupante e não pode ser explicado apenas pelo El Niño”.

O Guardian informa que entre 8 e 11 de fevereiro, as temperaturas globais estiveram mais de 2ºC acima da média de 1850-1900. Ao longo do mês como um todo, entretanto, a Europa registrou um calor 3,3ºC acima desse valor de referência.

Os registros de calor estão tornando-se a norma, mas a extensão da anomalia nos mares suscitou preocupação. O jornal ouviu Carlos Nobre, descrito como “um dos climatologistas mais influentes do Brasil”. Nobre disse que nenhum modelo climático previu com precisão quão altas seriam as temperaturas da superfície do mar durante os últimos 12 meses. Dado o calor contínuo no mar, ele sugere que 2024 provavelmente será outro ano excepcionalmente quente para o mundo como um todo.

Atlântico Norte

A anomalia é mais forte no Atlântico Norte, onde Brian McNoldy, climatologista da Universidade de Miami, calculou o desvio das médias estatísticas como um evento que ocorre a cada 284 mil anos. “O calor foi recorde durante um ano inteiro, muitas vezes por margens aparentemente impossíveis”, tuitou. E descreveu as tendências como “profundamente preocupantes”.

Vamos recordar que há pouco publicamos um post em que os cientistas dizem que o aquecimento dos oceanos é um fenômeno irreversível que persistirá ao longo deste século, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa possam ser interrompidas.

Segundo o portal Mit Climate Portal, “Andrei Sokolov, modelador climático que trabalha no Programa Conjunto do MIT sobre Ciência e Política da Mudança Global, fez parte de uma equipe que estudou uma variedade de cenários em que as emissões de CO2 param inteiramente no futuro próximo. Na maioria dos modelos usados em suas simulações, a temperatura média global para de subir após algumas décadas, mas permanece acima da média histórica por muitos séculos. Alguns modelos mostraram aquecimento contínuo por décadas ou mesmo séculos após o fim das emissões de CO2, mas estavam em minoria”.

No Brasil, as consequências do aquecimento dos oceanos serão graves, especialmente no litoral. Mais pessoas ficarão desabrigadas e a erosão, que já afeta cerca de 60% da zona costeira, vai se intensificar. Mas os impactos vão além do litoral.

Dados de janeiro de 2023 do Serviço Geológico do Brasil, ligado ao Ministério de Minas e Energia, indicam que 3.938.831 pessoas vivem em 13,5 mil áreas de risco no País. E são justamente essas áreas que enfrentarão tempestades mais severas, ventos mais fortes e inundações mais significativas.

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