Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de fevereiro de 2024
Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.
Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.
Diniz morreu no último domingo (18), aos 87 anos, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.
A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.
Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.
Endividamento
Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.
O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.
Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.
Esforço e vaidade
Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.
Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.
A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.
Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.
Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.
O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.