Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 16 de abril de 2022
O ex-juiz Sérgio Moro disse adeus às pretensões de ser presidente da República. Ele foi miseravelmente enganado pelo cacique político Luciano Bivar, chefão da União Brasil. Prometeram-lhe a candidatura presidencial e deixaram-no na estrada.
Moro, que sempre se atribuiu uma nota alta, que sempre se achou, nem desconfiou e caiu como um pato. Neófito, amador na política, jogou pela janela uma candidatura certa, no partido Podemos, por uma duvidosa na União Brasil.
E por que trocou? Pressa, ambição e oportunismo. É que a União Brasil tem mais estrutura, mais recursos para a campanha. O Podemos é um partido certinho, mas modesto. E Moro pulou de galho sem medo de ser feliz.
Com o que não contava, o que não esperava? A reação de caciques como ACM Neto e Ronaldo Caiado, mais interessados nas eleições da Bahia e de Goiás, onde são candidatos a governador, do que na eleição nacional. Para ambos tanto faz se o presidente vai ser Bolsonaro ou Lula. Eles querem guardar distância de uma candidatura que vai até certa altura, mas não decola.
A verdade é que Moro se mostrou um mau observador de como funciona a política. E não que lhe tenham faltado situações em que, claramente, era possível intuir certas contingências inescapáveis.
O ex-juiz cometeu o mesmo equívoco de Doria: não ver que na política a vontade pessoal, o talento, a reputação, a clareza de propósitos, ou mais o que seja, contam, mas estão longe de serem suficientes.
Quando ele aceitou o convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça estava imbuído da certeza de que seria capaz de fazer a diferença, e de implementar um conjunto de medidas que – na sua visão monolítica, na sua obsessão – iria acabar com a corrupção no Brasil. E desse modo teria definitivamente inscrito o seu nome no panteão dos heróis da pátria.
Ficou no governo um ano e pouco, demorou uma eternidade a perceber que juiz é uma coisa, ministro do governo é outra. Na primeira, ele é senhor de suas decisões; na segunda ele deve sopesar outras instâncias, como o presidente da República, como (e talvez principalmente) o Congresso Nacional. Ele precisa mediar as ações: é preciso ganhar, persuadir a maioria de um coletivo amplo, plural, diversificado, volátil.
No ministério, ignorou a antipatia manifesta de, talvez, um terço dos parlamentares, incomodados pelas ações ostensivas e voluntariosas, por ele conduzidas na Operação Lava Jato. Achou que tirava de letra, como fazia quando era juiz, e se deu mal: teve de sair do governo (no qual nunca deveria ter entrado) de forma não muito honrosa. Não deve ser confortável ser chamado de traidor pelo tipo de gente que faz o bolsonarismo.
O resto é recente. O partido Podemos fez barro para atraí-lo às suas fileiras. Moro veio com a garantia de que seria candidato a presidente. Mas a União Brasil, muito mais robusta, com muito mais dinheiro em caixa, convenceu-o de mudar.
A turma do União Brasil, à frente o ardiloso Luciano Bivar, cortou o barato, puxou o tapete: pode vir, mas não com a certeza da candidatura à presidência. Caiu do trapézio sem rede de proteção. Dificilmente se recupera.